Urso-pardo abatido a tiro em área protegida nas Astúrias

Um urso-pardo macho foi encontrado morto, abatido a tiro, na sexta-feira passada num parque natural das Astúrias. A Guardia Civil tem a decorrer uma investigação à morte deste animal, de uma espécie em perigo de extinção no Sul da Europa.

 

O urso-pardo (Ursus arctos), um macho sub-adulto com 105 quilos, foi encontrado na sexta-feira, dia 9 de Setembro, por um grupo de turistas no Parque Natural de Fuentes del Narcea, Degaña e Ibias, segundo um comunicado da Fundação Urso Pardo.

Os resultados preliminares da necropsia efectuada no sábado na Faculdade de Veterinária da Universidade de Leão apontam para a morte por disparo. A Fundação considera que este é um caso muito grave, para mais “se tivermos em conta que aconteceu às portas de Muniellos (reserva natural integral), em pleno Parque Natural”.

De momento, o Serviço de Protecção da Natureza (Seprona) da Guardia Civil tem a decorrer uma investigação para apurar o sucedido.

A associação espanhola Fapas salienta que “a morte deste urso acontece apenas uns dias depois da abertura do período de caça” ao javali e lembra que a Consejería de Desarrollo Rural autorizou batidas ao javali em áreas críticas para o urso pardo dentro do Parque Natural de Somiedo, “um factor de risco extremo para a conservação dos ursos”.

Hoje, a responsável por aquele organismo, María Jesús Álvarez, respondeu dizendo que não houve batidas nem acções de controlo das populações de javalis na zona de Moal (Cangas del Narcea) onde o urso foi encontrado, cita a agência de notícias espanhola Europa Press.

O Fapas lamentou que o governo regional das Astúrias “se recuse, sistematicamente, a pôr em marcha qualquer iniciativa de prevenção de riscos para evitar a morte de ursos” e pediu a concretização do Plano de Recuperação do Urso Pardo, aprovado nas Astúrias mas ainda na gaveta.

“Torna-se evidente que o aumento populacional de ursos em apenas algumas áreas das Astúrias esteja a ser acompanhado por uma gestão negligente e intencionalmente orientada pelo governo das Astúrias para pôr fim ao processo de recuperação da espécie, sem que esta tenha conseguido alcançar os níveis óptimos de recuperação populacional”, acusa a associação.

Actualmente estima-se que vivam 250 ursos na cordilheira cantábrica.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o urso-pardo

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie em perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.