Urso-pardo. Foto: Thomas Wilken/Pixabay

Ursos da Cordilheira Cantábrica serão seguidos com radiotransmissores

O projecto de seguimento, pela Junta de Castela e Leão, deverá começar no primeiro semestre deste ano. O objectivo é saber como o urso-pardo usa o território e identificar corredores ecológicos.

 

Actualmente estima-se que vivam na Cordilheira Cantábrica, no Norte da Península Ibérica, entre 230 a 270 ursos-pardos (Ursus arctos), espécie declarada Em Perigo de extinção em Espanha em 1989 e protegida pela legislação espanhola desde 1973.

Estão distribuídos por duas sub-populações, a ocidental com entre 190 e 230, e a oriental, com cerca de 40.

Todos os anos, equipas técnicas das comunidades autonómicas, da Fundación Oso Pardo (FOP), de outras entidades conservacionistas e voluntários saem para o campo à procura de indícios e recolhem vídeos e fotografias para saber quantas fêmeas e quantas crias vivem na região. O último censo conhecido, referente a 2018, deu conta de 38 fêmeas e 64 crias.

Agora, além deste tipo de contagens, as autoridades vão experimentar uma outra forma de conhecer melhor estes animais, através do seguimento por radiotransmissores.

O projecto piloto vai acontecer na província de Leão e depois será implementado no Principado das Astúrias.

Este projecto “é de grande importância para podermos conhecer os padrões das deslocações e a actividade dos ursos-pardos cantábricos”, explicou, no início deste mês, a Junta de Castela e Leão em comunicado.

As autoridades sublinham que vão conseguir “quantificar a extensão e localização das áreas reais usadas por machos e fêmeas, adultos e subadultos, ao longo dos diferentes períodos que caracterizam a biologia do urso-pardo”.

Além disso, a informação recolhida será importante ainda para seguir os movimentos de dispersão dos ursos subadultos, necessária “para planear possíveis corredores que facilitem a ligação entre populações ou para identificar e eliminar o efeito barreira de algumas infraestruturas”.

Na verdade, as subpopulações ocidental e oriental têm, de momento, uma “ligação mínima” entre si.

Outra das vantagens deste novo projecto, que surge no âmbito da Estratégia para a Conservação do Urso-pardo na Cordilheira Cantábrica – documento aprovado a 30 de Setembro de 2019 -, é identificar os ursos que mais frequentemente causam danos a propriedades humanas e qual o efeito do recente turismo de observação de ursos, “que pode afectar os ritmos de actividade, as deslocações e o uso do território”.

Segundo a Junta de Castela e Leão, o seguimento dos ursos “é indispensável para gerirmos as pequenas populações ameaçadas de ursos-pardos na Cordilheira Cantábrica”.

Este projecto será complementado com as informações dos censos anuais e de estudos genéticos, tudo para conservar esta espécie.

Ainda por definir está o número de ursos que serão seguidos, e quais, bem como as épocas e as metodologias de captura dos animais para a colocação das coleiras com os radiotransmissores.

Participa neste esforço, além da Junta de Castela e Leão, a equipa de investigação em urso cantábrico da Unidade Mista de Investigação em Biodiversidade do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC).

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o urso-pardo.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie Em Perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.