Urso-pardo. Foto: Thomas Wilken/Pixabay

Ursos-pardos fazem marcas nas árvores para comunicar entre si

Os ursos-pardos utilizam marcas no tronco das árvores como sinais visuais para transmitir informação sobre a sua localização, tamanho e estado reprodutivo, revela uma equipa de investigadores do CSIC.

O resultado desta investigação internacional, coordenada pelo Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) espanhol, foi publicado a 4 de Maio na revista Scientific Reports.

“A compreensão das formas de comunicação animal está ainda condicionada por ideias enraizadas na literatura científica. A maioria das investigações sobre mamíferos centrou-se quase exclusivamente na sinalização química (excrementos, urina e secreções de glândulas corporais) e acústica, mas a visual pode ter sido ignorada”, explicou, em comunicado, Vincenzo Penteriani, investigador do CSIC na Unidade Mista de Investigação em Biodiversidade, no Instituto de Ciência e Tecnologia do Carbono (INCAR-CSIC).

Este estudo centrou-se na análise do comportamento dos ursos que consiste em descascar os troncos das árvores.

Urso-pardo a deixar marcas no tronco de uma árvore. Foto: CSIC

Entre meados de Maio e Setembro de 2020, durante o período reprodutivo do urso-pardo (Ursus arctos) na Cordilheira Cantábrica, os investigadores manipularam as marcas que estes animais deixavam nas árvores tapando-as com tiras de cascas de árvores.

“Observámos que durante a temporada reprodutora os animais retiravam as tiras de cascas. Isso sugere que o descasque é um canal de comunicação visual utilizado para a comunicação intraespecífica”, comentou Penteriani, autor principal do artigo.

As câmaras instaladas pelos investigadores na zona gravaram como os ursos descobriram a manipulação e também que o período de tempo mais curto entre a manipulação e a visita de um urso, pela primeira vez, foi de sete dias. “As manipulações sempre desencadearam uma resposta rápida quando os machos adultos, provavelmente os mesmos que marcaram os troncos, regressaram e revisitaram as árvores marcadas”, acrescentou o investigador.

Até agora, as marcas que os ursos faziam nas árvores desconcertavam os investigadores. “Havia muitas teorias, a maioria relacionada com a deposição glandular de odor.”

“Espécies solitárias como os ursos, com interações directas pouco frequentes entre si, podem beneficiar deste tipo de marcas visuais para dar a conhecer aos outros a sua localização, tamanho e estado reprodutivo. São mais duradouras porque a probabilidade de que factores ambientais – como a chuva – afectem a sua detectabilidade é menor e funcionam de forma remota, mesmo quando o indivíduo que deixa o sinal se encontra longe”, acrescentou o investigador.

No estudo participaram também outros investigadores do Grupo de Investigação do Urso Cantábrico da Unidade Mista de Investigação em Biodiversidade, bem como técnicos da Guarda do Principado das Astúrias (Patrulha Urso) e do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS).

O urso-pardo foi declarada espécie Em Perigo de extinção em Espanha em 1989. Hoje distribui-se por quatro comunidades autonómicas – Principado das Astúrias, Cantábria, Castela e Leão e Galiza – em duas populações diferenciadas.

Em Portugal, esta é uma espécie extinta na natureza. Mas em Maio de 2019 foi confirmada a presença de um urso-pardo, um indivíduo isolado, pela primeira vez desde 1843.


Saiba mais sobre o urso-pardo.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie Em Perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.