Urso-pardo. Foto: Thomas Wilken/Pixabay

Vai começar o primeiro censo genético de urso-pardo na Cantábria

A 1 de Setembro, quatro comunidades autónomas espanholas vão começar o primeiro censo genético de urso-pardo cantábrico, que se estenderá até 15 de Dezembro, informou a Junta espanhola de Castela e Leão.

 

Actualmente estima-se que vivam na Cordilheira Cantábrica, no Norte da Península Ibérica, entre 230 a 270 ursos-pardos (Ursus arctos), espécie declarada Em Perigo de extinção em Espanha em 1989 e protegida pela legislação espanhola desde 1973.

Estão distribuídos por duas sub-populações, a ocidental com entre 190 e 230, e a oriental, com cerca de 40.

Todos os anos, equipas técnicas das comunidades autonómicas, da Fundación Oso Pardo (FOP), de outras entidades conservacionistas e voluntários saem para o campo à procura de indícios e recolhem vídeos e fotografias para saber quantas fêmeas e quantas crias vivem na região. O último censo conhecido, referente a 2018, deu conta de 38 fêmeas e 64 crias.

Agora, além deste tipo de contagens, as autoridades vão experimentar uma outra forma de conhecer melhor estes animais, através de estudos genéticos.

No total, a área alvo deste censo na Cordilheira Cantábrica tem cerca de 1,5 milhões de hectares, repartidos em 314 quadrículas de 5×5 quilómetros em Castela e Leão, 202 nas Astúrias, 69 na Cantábria e 43 na Galiza.

A realização conjunta do primeiro censo de urso-pardo cantábrico foi acordada em 2019 pelo grupo de trabalho no qual participam as comunidades autónomas de Castela e Leão, Astúrias, Cantábria e Galiza, sob a coordenação do Miteco (Ministério espanhol para a Transição Ecológica).

O objectivo é “obter dados rigorosos sobre a espécie” que permitam fazer uma gestão conservacionista mediante “critérios científicos modernos, tal como se está a fazer com esta e outras espécies em perigo de extinção e em situação crítica”, explica a Junta de Castela e Leão em comunicado.

A individualização genética estará a cargo da Universidade Autónoma de Barcelona. Já os estudos de parentesco e conectividade dos ursos serão da responsabilidade do Instituto de Biologia Evolutiva – CSIC e a análise da estimativa populacional do Instituto de Recursos Cinegéticos IREC – CSIC.

O principal método será a realização de trajectos para a localização de excrementos. Além disso, em função das disponibilidades de cada comunidade autonómica, serão utilizados métodos para recolher pêlo e câmaras de foto-armadilhagem. “A utilização de mais de um método vai permitir combinar os dados e a estimativa populacional poderá ser mais precisa”, acrescenta a Junta.

O trabalho de campo em Castela e Leão será realizado pelos agentes ambientais da Junta, pelos membros das patrulhas dedicadas ao urso-pardo da Fundación del Patrimonio Natural de Castilla y León e técnicos da Fundación Oso Pardo.

“Além da elevadíssima importância da estimativa populacional que se fará nos próximos meses, a Junta de Castela e Leão considera especialmente relevante conhecer as relações de parentesco e conectividade, assim como o nível de endogamia (grau de relação entre os progenitores) dos diferentes indivíduos da população cantábrica, especialmente tendo em conta a recente troca de exemplares entre as subpopulações oriental e ocidental da Cordilheira Cantábrica.”

Uma primeira fase dos trabalhos de parentesco acontecerá durante 2020 mas terão continuidade em 2021, mediante técnicas de sequenciação de última geração (Next-Generation Sequencing o NGS). Estas permitirão determinar a diversidade genética de cada indivíduo e a relação de parentesco entre os animais.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o urso-pardo.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie Em Perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.