Veados sabem ler os “rótulos” das plantas

Na hora de escolher que plantas vão comer, os veados-vermelhos (Cervus elaphus) têm em conta o nível de toxicidade das plantas, bem como os seus nutrientes, proteínas e minerais, revela um estudo científico internacional na revista “PLOS ONE”.

Estes grandes herbívoros não se alimentam de qualquer planta que encontrem no caminho. São cuidadosos na escolha e evitam uma dieta com quantidades excessivas de minerais tóxicos, como o enxofre, dizem os investigadores.

Os veados “fazem uma incorporação muito selectiva das plantas na sua dieta, acrescentando em menor quantidade aquelas que, apesar de terem proteínas e minerais essenciais – tais como o cálcio, potássio e fósforo – mostram níveis na fronteira de serem tóxicos”, explica Jorge Cassinello, investigador do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) e do Instituto de Investigação em Recursos Cinegéticos.

Para saber que plantas são as preferidas dos veados, os investigadores relacionaram os restos vegetais contidos nas fezes dos animais com a disponibilidade dessas plantas que zona onde vivem. A análise realizou-se com as 35 plantas mais abundantes da área de estudo. Destas, os veados preferiram 23, nomeadamente o lentisco e as estevas. “Do estudo das plantas que os veados preferem e excluem da sua dieta concluímos que o factor que melhor explica a selecção da dieta alimentar dos veados é a presença de quantidades tóxicas de sulfureto”, acrescenta Cassinello.

Segundo os autores do estudo, esta investigação ajuda a compreender melhor as consequências que alterações na composição botânica de um lugar podem ter sobre as populações de herbívoros. E vice-versa, ou seja, como a pressão dos herbívoros afecta a interacção entre as plantas de uma comunidade vegetal. As espécies com minerais tóxicos poderiam sobreviver melhor na presença de herbívoros.

 

[divider type=”thin”] Leia aqui o artigo que publicámos esta semana sobre as consequências do desaparecimento dos grandes herbívoros.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.