Papagaio-de-ombro-amarelo. Foto: Neil De Master

Venezuelano vence “Óscares verdes” por salvar papagaio da extinção

O naturalista Jon Paul Rodriguez e a sua organização, Provita, conseguiram travar a extinção do papagaio-de-ombro-amarelo (Amazona barbadensis), mesmo num país mergulhado numa profunda crise.

 

O naturalista venezuelano Jon Paul Rodriguez, 51 anos, recebeu o Prémio Dourado dos Whitley Awards numa cerimónia realizada na noite de 1 de Maio na Real Sociedade de Geografia de Londres, perante 500 convidados.

 

Foto: Whitley Awards

 

Os prémios, por vezes considerados os “Óscares verdes” e entre os maiores prémios mundiais de conservação da natureza, têm como objectivo apoiar e chamar a atenção para a importância dos movimentos conservacionistas locais e distinguir conservacionistas e activistas que trabalham em circunstâncias muito difíceis.

Jon Paul Rodriguez trabalha há quase 30 anos para travar o desaparecimento do papagaio-de-ombro-amarelo (Amazona barbadensis). O seu esforço e o da sua equipa conseguiu que a população destas aves subisse de 650 para 1.700.

 

Papagaio-de-ombro-amarelo. Foto: Jon Paul Rodriguez

 

Isto foi conseguido mudando a atitude das pessoas em relação às aves, recrutando caçadores furtivos para serem “guardiões” que vigiam os ninhos 24 horas por dia e criando um orgulho da comunidade na natureza local. O facto de isto tudo ter sido conseguido no meio de uma profunda crise política no país ainda é mais impressionante.

Edward Whitley, fundador do Whitley Fund, disse que “o trabalho de Jon Paul tem sido crucial para reverter a situação do papagaio-de-ombro-amarelo. Ele trabalhou com as comunidades locais durante mais de 30 anos e liderou a sua equipa com dedicação”.

“Durante as últimas duas décadas conseguimos recuperar estas aves”, disse Rodriguez ao jornal britânico The Independent. “Fazemos 24 horas de protecção dos ninhos. Temos uma equipa de guardiões. No passado, eles eram caçadores furtivos que capturavam os papagaios, mas agora eles trabalham connosco para os salvar.”

 

Jon Paul Rodriguez. Foto: Whitley Awards

 

A Venezuela é um dos habitats mais ricos do mundo em espécies de aves, com 1.383 espécies confirmadas, 45 das quais são endémicas.

Rodriguez disse na cerimónia que a Venezuela já foi um destino apetecido para observadores de aves estrangeiros. Mas o turismo tem vindo a diminuir à medida que os problemas do país se têm exacerbado, com o líder da oposição Juan Guaido a tentar afastar o Presidente Nicolas Maduro, com o apoio de vários países. Estima-se que mais de três milhões de pessoas tenham já saído do país.

“Costumávamos ter uma grande comunidade de observadores de aves. Isso entrou em declínio à medida que a situação política piorava. Mas as aves continuam aqui”, disse Rodriguez.

O Whitley Fund for Nature premiou outros seis finalistas.

 

Jose Sarasola, em trabalho de campo

 

Caleb Ofori-Boateng (Gana) trabalha para conservar a rã da espécie Conrava derooi; Nikolai Petkov (Bulgária) pela conservação do ganso-do-pescoço-vermelho (Branta ruficollis); Vatosoa Rakotondrazafy (Madagáscar) pelo seu papel num movimento da sociedade civil para salvar os recursos marinhos; José Sarasola (Argentina) pela preservação da águia-cinzenta (Buteogallus coronatus), Wendi Tamariska (Indonésia) por proteger os orangotangos; e Ilena Zanella (Costa Rica), pelo seu trabalho em nome do tubarão-martelo.

Os prémios têm um valor entre as 40.000 libras (cerca de 46.540 euros) e as 60.000 libras (cerca de 69.810 euros).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.