Veterinária portuguesa vai tratar hienas e mabecos no Zimbabwe

Bárbara Ferreira, 27 anos, quer tratar os animais selvagens infectados com raiva e esgana no Parque Nacional do Hwange. Antes de partir, pede ajuda por causa da “enorme” falta de equipamentos e materiais.

Actualmente há hienas e mabecos (também conhecidos como cães-selvagens-africanos) a morrer de raiva no Zimbabwe, alerta Bárbara Ferreira, médica veterinária no Parque Nacional do Hwange, prestes a partir para aquele país africano.

“Estas são as espécies mais vigiadas. O resto, ninguém sabe”, contou Bárbara Ferreira à Wilder.

Foto: D.R.

“A raiva já foi confirmada como causa de morte de alguns animais do parque – como os mabecos, hienas e ratéis – mas ainda ninguém conseguiu diagnosticar esgana, mesmo sabendo que, recentemente, alguns leões do parque, mais perto de localidades, foram vistos com sinais desta doença”, acrescentou.

Durante os próximos três anos, esta médica veterinária vai estar a fazer trabalho veterinário e de investigação no Parque Nacional do Hwange (a maior reserva natural do Zimbabwe, com os seus 14.651 quilómetros quadrados), ao abrigo de uma bolsa de PhD da Universidade do Porto, chamada BIODIV-Africa.

O objectivo é “estudar a prevalência da raiva e da esgana nos carnívoros do Parque do Hwange no Zimbabwe, estudar a dinâmica deste vírus e fazer uma avaliação de risco para criar estratégias de controlo de doenças”, explicou.

Actualmente, o mabeco é uma espécie Em Perigo de extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A par da perda de habitat, as doenças surgem como uma das ameaças a esta espécie, já extinta em países como o Burundi, Mauritânia, Gana, Gabão e Serra Leoa.

A caça é outra das ameaças ao mabeco e também a outras espécies selvagens. A 1 de Julho de 2015, foi no Parque Nacional do Hwange que Cecil, um leão icónico de 13 anos, foi abatido a tiro por um turista norte-americano. Dois anos depois, o leão Xanda, filho de Cecil, também acabou por morrer da mesma forma.

Bárbara Ferreira a anestesiar um leopardo. Foto: D.R.

Por enquanto, “não se sabe que soluções podem ser usadas para atenuar o problema destas doenças para a vida selvagem”, diss Bárbara Ferreira. “Dada a crise política no país, ninguém parece estar muito interessado neste problema, apesar de a raiva e a esgana terem sido muito estudadas no passado durante os episódios de mortes de leões, mabecos, hienas e outros animais no Serengeti e em Ngorongoro (Tanzânia).”

Bárbara estará em Portugal esta semana e na próxima e lançou um pedido de ajuda para quem puder que contribua com material médico/veterinário, que será usado “para salvar muitos dos animais selvagens de dois parques do país”.

Segundo esta veterinária, “a falta de equipamentos e materiais é enorme”.

Por isso está a apelar a toda a ajuda que conseguir levar de Portugal. “As vacinas já tenho asseguradas por organizações internacionais, mas material para a campanha e para o doutoramento está em falta.”

A veterinária a disparar um dardo tranquilizador. Foto: D.R.

A lista dos bens mais necessários é composta por agulhas (laranjas, verdes, azuis, rosas), seringas (1ml, 2ml, 5ml, 10ml, 20ml), cateteres (amarelos, rosa, azuis), fios de sutura (absorvíveis), punch de biopsia, luvas (XS, S ou estereis 6-6.5), testes de esgana, parvo, fiz/felv, adesivos e material de pensos, laminas de microscópio, soros, tubos de EDTA, heparina, crioconservação, secos, compressas, alcohol, chlorexidina, lâminas de bisturi e injectáveis: antibióticos, cortiço, anti-inflamatórios, multivitaminas, vitB12. “Basicamente tudo o que quiserem doar, incluindo de medicina humana.”

Bárbara Ferreira fará chegar algum do material ao Zimbabwe já no final de Junho ou início de Julho.

Até agora já recebeu donativos de particulares mas também de centros e hospitais veterinários. Quem fizer donativos monetários, a veterinária compromete-se a fotografar o material comprado a ser utilizado no terreno.

Bárbara Ferreira tem participado em projectos em prol da vida selvagem em África desde 2012, concretamente na África do Sul, Angola e Zimbabwe. Um dos trabalhos que tem feito é esterilizar e vacinar animais domésticos em Espanha, na Índia e no Zimbabwe. “Esta é uma das maneiras de controlo da população de domésticos para diminuir o número de encontros e possível transmissão de doenças infecciosas” aos animais selvagens.


Agora é a sua vez.

Se quiser ajudar, pode contactar Bárbara Ferreira através do email [email protected].

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.