Foto: Michael Candelori / Wiki Commons

Vitória de Donald Trump preocupa ambientalistas

Ambientalistas e cientistas do clima avisam que a vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas vai reflectir-se numa inversão da estratégia dos Estados Unidos face ao ambiente e às alterações climáticas.

 

Donald Trump foi eleito nesta quarta-feira como o novo Presidente dos Estados Unidos, cargo que vai assumir em Janeiro, após uma vitória que surpreendeu os apoiantes da rival democrata Hillary Clinton.

“É lamentável que o próximo Presidente dos Estados Unidos da América ainda não tenha entendido que o mundo está no caminho certo para eliminar os combustíveis fósseis”, comentou hoje em comunicado a associação ambientalista Zero, lamentando uma possível mudança no rumo da estratégia norte-americana face às energias renováveis e ao Acordo de Paris, que entrou em vigor em Novembro do ano passado.

“Embora seja claro que Donald Trump não pode retirar imediatamente os EUA nem minar o Acordo de Paris, existe o risco de os EUA perderem o barco num corrida para um futuro renovável”, sublinha a associação liderada por Francisco Ferreira.

Ainda assim, os ambientalistas da Zero defendem que “não existe nenhum receio de que a mudança do paradigma energético em curso no mundo seja perturbada” pela vitória de Donald Trump, uma vez que “é claro que o ímpeto [do Acordo] de Paris continuará, não importa quem seja o Presidente dos EUA”.

Até ao próximo dia 18, está a realizar-se um encontro em Marraquexe para dar seguimento às decisões acordadas em Paris, que deram origem a um documento que foi até agora ratificado por “mais de metade de todos os países do mundo [103 Partes até hoje]”, lembrou ainda a associação.

Também o director do Potsdam Institute for Climate Impact Research, Joachim Schellnhuber, considera que o mundo vai ter de continuar no combate às alterações climáticas sem o contributo norte-americano.

“A ciência não pode esperar qualquer acção positiva da parte dele [Donald Trump]. O mundo tem de seguir agora em frente sem os Estados Unidos, no caminho para a mitigação dos riscos associados ao clima e da inovação a nível das tecnologias limpas”, afirmou este responsável, citado pelo jornal britânico Internacional Business Times.

Já Peter Cox, professor de dinâmica dos sistemas climáticos na Universidade de Exeter, acredita que a vitória de Trump “é um desastre ambiental”: “Se acreditarmos nas palavras de Donald Trump durante os últimos anos, o que inclui a negação das mudanças climáticas e a ameaça de abandonar o Acordo de Paris, a sua eleição como Presidente é um desastre ambiental”, considerou.

Concluindo todavia com uma nota de esperança, Cox afirmou esperar que “ao estar na Casa Branca Trump veja as coisas mais claramente”, recorrendo também ao apoio da equipa que o vai rodear durante a presidência.

“Isso inclui a importância da acção internacional para abrandar as mudanças climáticas. Podemos todos ter esperança, não é?”, questionou o professor universitário.

Nos últimos meses de campanha para as presidenciais, poucas foram as ocasiões em que o novo Presidente eleito expressou as suas opiniões sobre o ambiente e as alterações climáticas, tirando algumas afirmações no Twitter em que classificava estas últimas como um “embuste”.

No entanto, no final de Outubro, Trump foi mais claro ao afirmar que cortaria todas as ajudas federais dedicadas a este domínio, a nível internacional.

“Vamos colocar a América primeiro. Isso inclui cancelar milhares de milhões de gastos relacionados com as alterações climáticas nas Nações Unidas, valor que Hillary quer aumentar, e tratar das infraestruturas americanas incluindo água limpa, ar limpo e segurança”,  salientou o então candidato republicano, durante um comício no Michigan realizado há pouco mais de uma semana, no dia 31 de Outubro.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.