World Press Photo: Fotógrafo português distinguido com imagem de rio irreconhecível

Mário Cruz fotografou o Pasig, um dos 20 rios mais poluídos do planeta, nas Filipinas. A sua fotografia foi uma das distinguidas este ano pelo World Press Photo, o maior concurso de fotojornalismo do mundo, na categoria Ambiente.

 

“Ligar o mundo às histórias que interessam” é o mote deste concurso que, desde 1955, distingue os fotojornalistas profissionais cujas imagens melhor contribuíram para o jornalismo no ano anterior.

Os vencedores deste ano, nas oito categorias a concurso, foram anunciados ontem, dia 11 de Abril, numa cerimónia em Amesterdão.

Mário Cruz venceu o terceiro lugar na categoria Ambiente – fotografias “single”, com a fotografia “Living Among What’s Left Behind”.

A imagem deste fotógrafo freelancer dedicado a questões de injustiça social e direitos humanos mostra uma criança que recolhe material para reciclagem, deitada num colchão velho, rodeada de lixo a boiar no rio Pasig, em Manila, nas Filipinas.

O rio Pasig foi declarado morto do ponto de vista biológico nos anos 1990 por causa da poluição industrial e do lixo ali despejado pelas comunidades locais, sem acesso a soluções de saneamento adequadas. Em 2017, um relatório da revista Nature Communications revelou que o Pasig é um dos 20 rios mais poluídos do planeta, largando no oceano até 63.700 toneladas de plásticos por ano.

Estão a ser feitos esforços para limpar o rio, mas em vários troços a camada de lixo ainda é tão densa que é possível caminhar em cima dele.

“Nós vemos imagens de praias com lixo no areal e ficamos incomodados, mas estas pessoas em Manila [capital das Filipinas] estão rodeadas de lixo diariamente, já há muitos anos, e isto merece a nossa reação rápida”, comentou Mário Cruz em declarações à Lusa, citado pelo jornal Expresso, aquando do anúncio da nomeação para o World Press Photo.

Mário Cruz, 31 anos e natural de Lisboa, já tinha sido distinguido em 2016 pelo World Press Photo, na categoria Temas Contemporâneos.

O primeiro lugar na Categoria Ambiente, para fotografias “single” foi para Brent Stirton, correspondente da Getty Images e colaborador regular da revista “National Geographic”. A imagem vencedora, “Akashinga – the Brave Ones” mostra Petronella Chigumbura, 30 anos, num treino em Phundundu Wildlife Park, no Zimbabué. Petronella é membro de uma unidade que luta contra a caça ilegal de animais selvagens, constituída apenas por mulheres, chamada Akashinga (que quer dizer “The Brave Ones”).

Akashinga é uma força de segurança criada como um modelo de conservação alternativo. O seu objectivo é trabalhar com as populações locais (e não contra elas) para o benefício do Ambiente e das pessoas. Todos os elementos da Akashinga são mulheres desfavorecidas, que desta forma têm um emprego e formação, beneficiando directamente da conservação da vida selvagem.

Ainda na categoria Ambiente, o primeiro lugar para as Histórias foi atribuído à fotografia “The Lake Chad Crisis”, do fotógrafo italiano Marco Gualazzini. A imagem mostra pacientes no Hospital Bol, em Bol, no Chade.

Uma crise humanitária está em curso na bacia hidrográfica do Chade, causada pela complexa combinação entre conflitos políticos e factores ambientais. O Lago Chade, outrora um dos maiores lagos de África e sustento para 40 milhões de pessoas, está ameaçado por um fenómeno de desertificação maciça. Como resultado de uma irrigação insustentável, secas, desflorestação e má gestão dos recursos naturais, o tamanho do lago diminuiu 90% nos últimos 60 anos.

Na categoria Natureza, o World Press Photo distinguiu em primeiro lugar a fotografia “Harvesting Frog’s Legs”, do fotógrafo húngaro Bence Máté.

A imagem mostra sapos com as pernas cortadas que lutam para se manter à superfície, depois de terem sido depositados de volta à água em Covasna, na Roménia. As pernas de sapos são consumidas como alimento durante a Primavera, quando os machos e as fêmeas se reúnem para reproduzir e depositar os seus ovos. Muitas vezes, as pernas são cortadas quando os animais ainda estão vivos.

Ainda na categoria Natureza, o primeiro lugar para as Histórias, foi para “Falcons and the Arab Influence”, também de Brent Stirton. A fotografia é a de uma fêmea de falcão-sacre (Falco cherrug) com as suas crias em Erdene Sant, na Mongólia. Esta é uma espécie ameaçada por causa da perda de habitat e do tráfico de vida selvagem.

Na categoria trabalho Interactivo do Ano, o júri decidiu distinguir o documentário “The Last Generation”, produzido por FRONTLINE/The GroundTruth Project.

Este trabalho conta a história de três crianças das Ilhas Marshall que estão prestes a perder as suas casas e o seu próprio país por causa da subida do nível do mar. Os jovens protagonistas do documentário alertam-nos para a importância e urgência do que está em risco.

“A história chama-se ‘The Last Generation’ porque se prevê que com as actuais emissões de dióxido de carbono, os mares vão subir até tornar as Ilhas Marshall inabitáveis ainda no tempo de vida das crianças com quem falámos nesta história”, explica Michelle Mizner, autora do trabalho.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Pode ver o trabalho de Mário Cruz nas Filipinas numa exposição que está patente até 26 de Maio no Palácio Anjos, em Algés.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.