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WWF: Estamos a destruir a natureza a uma escala sem precedentes

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As populações de animais selvagens caíram em média 68% desde 1970. A Humanidade está a empurrar até ao limite os sistemas naturais que suportam a vida no planeta.

Em média, as populações mundiais de mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis caíram 68% entre 1970 e 2016, segundo o relatório bianual Planeta Vivo 2020, da WWF e da Zoological Society of London (ZSL), divulgado hoje. Há dois anos, a percentagem era de 60%.

Papagaio-cinzento. Foto: Robert01/WikiCommons

Em todo o mundo, as populações de animais selvagens estão em queda livre, por causa do excesso de consumo humano, do crescimento populacional e da agricultura intensiva, alerta o novo relatório que avalia a abundância de vida na Terra.

“Um declínio médio de 68% nos últimos 50 anos é catastrófico e uma clara evidência dos danos da actividade humana no mundo natural”, comentou, em comunicado, Andrew Terry, director de Conservação da ZSL.

Este relatório, através do Living Planet Index (LPI), é uma das avaliações mais completas da biodiversidade global e foi feito a partir de dados compilados por mais de 125 peritos de todo o mundo. 

Concluiu que desde as florestas tropicais da América Central ao oceano Pacífico, a natureza está a ser explorada e destruída pelos humanos a uma escala nunca antes registada.

O LPI olhou para dados mundiais de cerca de 21.000 populações demais de 4.000 espécies de vertebrados entre 1970 e 2016.

Panda-gigante (Ailuropoda melanoleuca) na Reserva Wolong Panda, Sichuan, China. Foto: WWF

Entre as espécies ameaçadas avaliadas pelo LPI estão o gorila-das-terras-baixas (Gorilla gorilla) – cujos números no Parque Nacional Kahuzi-Biega, na República Democrática do Congo registaram uma queda de 87% entre 1994 e 2015, especialmente por causa da caça ilegal – e o papagaio-cinzento (Psittacus erithacus) no Sul do Gana, cujos números caíram 99% entre 1992 e 2014 por causa do comércio destas aves e perda de habitat.

Os números mostram que em todas as regiões do mundo, as populações de espécies selvagens de vertebrados estão em colapso, caindo em média mais de dois terços desde 1970.

As populações de vida selvagem nos habitats de água doce sofreram um declínio de 84%, o maior declínio em qualquer bioma, equivalente a 4% por ano desde 1970. Um exemplo é a população do esturjão chinês (Aciper sinensis) no rio Yangtze, na China, com uma queda de 97% entre 1982 e 2015 por causa das barragens.

“Parece que passámos 10 a 20 anos a falar sobre estes declínios e não conseguimos fazer nada. Estou frustrado e chateado com isto. Sentamo-nos nas nossas secretárias e compilamos estas estatísticas mas elas têm implicações reais. É mesmo muito difícil comunicar o quão dramáticos são estes declínios”, comentou Robin Freeman, coordenador da investigação na ZSL, citado pelo jornal The Guardian.

A América Latina e as Caraíbas registam as quedas mais alarmantes, com um declínio médio de 94% nas populações selvagens de vertebrados. Os répteis, peixes e anfíbios na região são os mais afectados, por causa da sobre-exploração dos ecossistemas, fragmentação de habitats e doenças.

África e Ásia-Pacífico também registam grandes declínios na abundância de mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis, com quedas de 65% e 45% respectivamente.

Anfíbio, biodiversidade. Foto: Pexels/Pixabay

A Europa e a Ásia Central registaram uma queda de 24%; na América do Norte, a percentagem é de 33%.

Os peritos defendem que este relatório é mais uma prova da sexta extinção em massa na vida na Terra, com um milhão de espécies em risco por causa da actividade humana, como alertou um relatório das Nações Unidas publicado em Maio de 2019.

Usando análise de dados de satélite, o relatório também conclui que as áreas selvagens pristinas apenas representam 25% da área terrestre do planeta e estão restritas à Rússia, Canadá, Brasil e Austrália.

“Estamos a varrer a vida selvagem da face do planeta, estamos a queimar as nossas florestas, a poluir e a sobre-explorar os nossos mares e a destruir áreas selvagens. Estamos a destruir o nosso mundo – a única casa que conhecemos – arriscando a nossa saúde, segurança e sobrevivência aqui na Terra”, comentou Tanya Steele, directora-executiva da WWF.

Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

“Se nada mudar, as populações de animais irão, sem dúvida, continuar a desaparecer, levando a vida selvagem à extinção e ameaçando a integridade dos ecossistemas dos quais dependemos”, disse Andrew Terry.

“Ainda assim, também sabemos que a conservação funciona e que as espécies podem ser trazidas do limiar da extinção. Com dedicação, investimento e conhecimento, estas tendências podem ser revertidas.”

A 30 de Setembro será realizada uma Cimeira especial sobre Biodiversidade, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, reunindo líderes mundiais, empresários e sociedade civil para sublinhar a necessidade urgente de acção pela natureza, ao mais alto nível.


Saiba mais sobre o relatório Planeta Vivo 2020 aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.