Foto: António Rivas/Programa de Conservación Ex-situ

WWF: futuro do lince-ibérico passa por ligar populações na natureza

Hoje existirão cerca de 800 linces-ibéricos em estado selvagem, graças a vários anos de trabalho de conservacionistas em Portugal e Espanha. Mas o futuro da espécie precisa que os núcleos populacionais deste felino estejam interligados, avisa a WWF Espanha.

 

É preciso começar a trabalhar para favorecer a ligação entre as várias populações de lince-ibérico, disse ontem à agência de notícias espanhola EFE Ramón Pérez de Ayala, coordenador dos projectos dos grandes carnívoros da WWF Espanha.

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie classificada Em Perigo de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Tem este estatuto desde 22 de Junho de 2015, depois de ter estado anos na categoria mais elevada, Criticamente Em Perigo de extinção.

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

 

Actualmente há populações reprodutoras no Vale do Guadiana (Portugal), na Andaluzia (Doñana-Aljarafe, Andújar-Cardeña, Guarrizas e Guadalmellato), Extremadura (Valle del Matachel) e Castela-La Mancha (Serra Morena Oriental e Montes de Toledo).

Estima-se que a população mundial de lince-ibérico tenha hoje cerca de 800 animais na natureza, incluindo 135 fêmea reprodutoras.

Estes núcleos foram criados e desenvolveram-se a partir das populações da Serra Morena e de Doñana, com animais vindos dos cinco centros de reprodução em cativeiro.

Em 2020, as reintroduções começaram em Espanha a 20 de Janeiro com a libertação de Queso e Quirina – macho e fêmea que tinham, então, 10 meses de idade – nos Montes de Toledo. Estes dois linces nasceram no centro de reprodução em cativeiro de Zarza de Granadilla (Cáceres).

 

Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ

 

“O projecto Life + Iberlince correu melhor do que estávamos à espera porque em todos os locais onde reintroduzimos linces correu tudo muito bem e já têm mais de 10 fêmeas reprodutoras”, disse Ramón Pérez de Ayala.

O responsável sublinhou que hoje há “populações fortes” de linces, com “fêmeas reprodutoras que criam sozinhas”. Agora, o desafio é evitar que, “a longo prazo, a endogamia prejudique a espécie”.

 

O problema da baixa diversidade genética

A diversidade genética demasiado baixa é um dos maiores desafios à sobrevivência do lince-ibérico, a par dos atropelamentos, da dependência das populações de coelho-bravo e do envenenamento e perseguição. Quanto mais consanguíneos forem os animais que se reproduzam, menor será o tamanho das ninhadas e menor será a taxa de sobrevivência das crias, por exemplo.

“Os núcleos ainda não estão devidamente conectados”, disse à Wilder Rodrigo Serra, director do Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI) numa entrevista em Março de 2018, onde defendia a necessidade vital de ligar as populações de lince para trazer de volta esta espécie aos seus territórios históricos em Portugal e Espanha.

 

 

“Não há corredores naturais devidamente consolidados. E isso traz-nos o risco acrescido de qualquer coisa que aconteça a uma destas populações – como incêndios ou epidemias – poder eliminar um núcleo”, acrescentou Rodrigo Serra.

Uma das formas para conseguir aumentar essa diversidade é fazer com que os animais de diferentes populações se encontrem e se reproduzam.

Mas este não é um desafio de fácil resolução. “Em alguns casos há uma distância grande entre populações”, lembrou Ramón Pérez de Ayala. Daí a importância do novo projecto LIFE Lynx Connect, que vai apostar em ter pequenas populações-ponte entre os grandes núcleos reprodutores, ligadas através de grandes corredores naturais.

“Já sabemos quais são estes corredores naturais e este ano começaremos a determinar a sua idoneidade com a realização de censos de coelho-bravo que nos permita identificar os lugares chave que constituam esses pontes intermédios”, explicou o responsável espanhol.

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico

 

Hoje, os peritos já sabem por onde tendem a movimentar-se os linces e onde estaria o habitat adequado. “Agora, o que precisamos conhecer é se têm coelho ou não”.

Nestas “populações-ponte”, acrescentou, “pode favorecer-se a chegada natural dos linces ou reintroduzir-se inicialmente alguns exemplares até conseguir, pelo menos, duas fêmeas reprodutoras na zona”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana.

Leia a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves.

Recorde aqui 12 datas que não devemos esquecer na conservação do lince-ibérico.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.