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Foto: Joana Bourgard

Zero exige abandono do óleo de palma no fabrico de biocombustíveis em Portugal

Menos óleo de palma e mais óleos alimentares usados para a produção de biocombustíveis em Portugal. É este o apelo da associação Zero, que se junta a um movimento europeu de alerta para os efeitos graves desta indústria nas florestas de orangotangos.

 

O uso de óleo de palma para o fabrico de biodiesel em Portugal mais do que triplicou entre Janeiro e Setembro de 2018, face a todo o ano anterior, alertou esta segunda-feira a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

Em causa esteve um consumo de 31 milhões de litros de óleo de palma para biocombustíveis nos primeiros nove meses do ano passado, o que indica uma alteração de comportamento dos fabricantes, que até agora usavam esse produto de forma residual, alertaram os ambientalistas, em comunicado.

“A expansão do óleo de palma para alimentar os veículos automóveis na Europa teve, e continua a ter, como consequências a desflorestação e a drenagem de turfeiras no sudeste da Ásia, para além de estar a pressionar várias espécies para a extinção, como o orangotango”, avisaram os ambientalistas, em comunicado, que alertaram também para “uma forte pressão sobre a floresta amazónica”.

 

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Plantação de óleo de palma, na Malásia. Foto: Izhamwong/Wiki Commons

 

Uma das principais causas para este crescimento foi a Directiva europeia das Energias Renováveis, aprovada em 2009, que tem como meta que os Estados-membros atinjam uma utilização de energia renovável de 10% no sector dos transportes, em 2020. Isso com o objectivo de reduzir as emissões de carbono ligadas às alterações climáticas.

Por esse motivo, os produtores de combustíveis ficaram obrigados a incluir uma percentagem mínima de biocombustível – fabricado a partir de fontes não fósseis – nos produtos que comercializam. Para o ano de 2019, Portugal manteve uma taxa de incorporação de 7% de biocombustível, que inclui o óleo de palma e outras alternativas, tanto na gasolina como no gasóleo.

 

Condutores são quem mais consome

Acredita-se actualmente que “o biodiesel produzido a partir do óleo de palma é três vezes pior para o clima do que o gasóleo fóssil”, refere a associação portuguesa. No entanto, “os condutores europeus são os principais consumidores (embora não conscientes) de óleo de palma na Europa”: representaram 51% do consumo deste produto a nível europeu, no ano passado.

O uso de óleo de palma preocupa aliás ambientalistas de vários países, que se manifestaram esta segunda-feira – baptizada como ‘Dia Europeu de Acção contra o biodiesel de óleo de palma’ – em frente às representações da Comissão Europeia em várias capitais: Lisboa, Roma, Bruxelas, Berlim, Paris e Madrid.

Os responsáveis da Zero, liderada por Francisco Ferreira, apelaram também para que o Governo português defina um calendário para abandonar a curto prazo o uso de óleo de palma nos biocombustíveis. E pedem “a promoção da incorporação de biocombustíveis recorrendo à utilização de matérias residuais, como é exemplo o aproveitamento dos óleos alimentares usados”.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Leia aqui o comunicado da Zero sobre o uso de óleo de palma nos biocombustíveis.

Conheça a petição europeia “Não ao óleo de palma nos nossos depósitos”, que já foi assinada por mais de 233.000 cidadãos europeus.

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.