Aves: novo livro, webcam, anilhagens e libertações

A partir desta semana já é possível voltar a seguir em directo um casal de cagarros (Calonectros diomedea borealis) num ninho na ilha do Corvo, nos Açores. Este é um projecto que já vai no seu terceiro ano.

Neste momento, a webcam colocada junto ao ninho mostra a fêmea a chocar o ovo, num processo de incubação que durará cerca de dois meses. Até Novembro poderá acompanhar o dia-a-dia destas aves, altura em que as crias saem dos ninhos e voam pela primeira vez em direcção ao mar. Esta é uma das alturas de maior risco na vida destas aves marinhas.

Segundo um artigo publicado nesta terça-feira na revista Scientific Reports, muitas aves jovens desviam-se da sua trajectória inicial ao ficarem deslumbradas com as luzes das cidades ou das estradas.

Desorientados, por vezes chocam contra os edifícios e árvores ou acabam no chão, onde ficam mais vulneráveis a predadores e atropelamentos. Os investigadores estudaram que níveis de luz e a que distância se pode provocar esta desorientação. Os dados obtidos mostram que 50% das crias cai perto dos seus locais de cria, num raio de três quilómetros, e que as colónias de aves mais afectadas são as que estão localizadas em terra, mais longe da costa.

Já no terreno, e não através de webcams, cerca de 40 pessoas com um gosto especial pela observação de aves juntaram-se no fim-de-semana passado na região de Montalegre no evento Aves de Barroso 2015, organizado pelo Clube Papaventos, em parceria com o Ecomuseu de Barroso e com o apoio do município de Montalegre e da Spea. Foram identificadas 101 espécies nas margens do rio Cávado, na serra do Larouco, no planalto da Mourela, em Tourém (com o seu Centro Interpretativo) e no “Trilho das Aves”.

Entre as espécies observadas estão a escrevedeira-amarela, o picanço-de-dorso-ruivo e a petinha-das-árvores.

Uma outra escrevedeira, desta vez a escrevedeira-de-garganta-preta, foi uma das 75 aves capturadas a 28 de Maio numa sessão da Estação de Anilhagem da Fonte Cigana, no sopé da Serra d’Ossa, no Alto Alentejo. Naquela que foi a 7ª sessão naquela estação no âmbito do PEEC (Projecto Estações de Esforço Constante) foram capturadas aves de 19 espécies diferentes. “O mais inesperado foi um juvenil de Guarda-rios Alcedo athis, que deve ter sido capturado enquanto prospectava novas áreas para se estabelecer. Nesta área o habitat não é o mais favorável para esta espécie e, por isso a surpresa de o capturar aqui”, escrevem os responsáveis na página da estação.

Um pouco mais a Sul, foi lançado no fim-de-semana o livro “O Montando e as Aves”, do LabOr – Laboratório de Ornitologia, sedeado em Évora. O livro fala da importância dos montados para as aves e vice-versa e tem várias sugestões de como se podem gerir áreas de montado promovendo a vida selvagem.

Ainda nesse fim-de-semana, o CERVAS devolveu à natureza uma águia-d’asa-redonda, em Panóias de Cima, no concelho da Guarda. A ave tinha ingressado no centro no início de 2015, entregue pelo SEPNA/GNR da Guarda após ter sido ferida com um tiro.

No Algarve, o RIAS devolveu à natureza, a 28 de Maio uma gaivota-de-patas-amarelas, um melro-preto e um guarda-rios.

Em Lisboa, no Parque Florestal de Monsanto, o LxCRAS chama a atenção para a captura ilegal de pintassilgos. Esta foi a espécie mais frequente na lista de espécies que deram entrada no centro no primeiro trimestre de 2015. Esta é uma “ave canora muito apreciada pelo seu canto e que, lamentavelmente, continua a ser capturada ilegalmente no nosso país”, escreve na sua página no Facebook.

Por fim, e depois de quase duas semanas de observações de uma raridade – o falcão-de-pés-vermelhos (Falco vespertinus) – já existem estimativas provisórias quanto ao número de indivíduos observados em Portugal. Nas duas últimas semanas de Maio terão sido observados 134 indivíduos deste pequeno falcão, em migração de África para o Leste europeu. Este total foi calculado a partir de observações divulgadas através da mailing list “raridades” e do Facebook. Este número é provisório e é uma estimativa, dado que é difícil obter o número exacto.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se tiver notícias sobre o que está a acontecer no mundo das aves em Portugal, contacte-nos para o email [email protected]

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.