Crias de lince-ibérico órfãs desde os três meses conseguem sobreviver sozinhas

Limbo e Larus tinham apenas três meses quando a mãe, Heredilla, foi atropelada por um comboio na região de Guadalmellato (Andaluzia). Ficaram sozinhos e nunca mais ninguém os viu. Pensou-se o pior. Agora imagens mostram que os dois conseguiram sobreviver e estão bem.

 

As imagens que mostram os dois irmãos bem de saúde chegaram no âmbito da campanha 2015 de monitorização das populações selvagens de lince-ibérico (Lynx pardinus), com a ajuda de câmaras de controlo remoto.

Surgiram como uma surpresa, porque tudo indicava que a história de Limbo e Larus tivesse um desfecho diferente.

Segundo o projecto Iberlince, em Maio de 2014, Heredilla, uma das fêmeas territoriais da área de Guadalmellato – onde, segundo o censo de 2014, vivem 45 linces-ibéricos -, foi atropelada na linha de alta velocidade que atravessa a região. Esta era um dos animais fundadores de origem selvagem na reintrodução da espécie neste vale.

Heredilla tinha nascido na zona de Navallana e, nas suas dispersões, acabou por estabelecer um território a Sul desta região. Em 2014 reproduziu-se pela segunda vez, com três anos de idade.

Quando foi atropelada pelo comboio estava acompanhada por duas crias que ficaram órfãs. Um particular e colaborador do projecto Iberlince (2011-2016) viu o atropelamento e avisou a equipa técnica. Rapidamente se organizou uma estratégia de captura para tentar resgatar as crias e criá-las em cativeiro.

Mas, depois de vários dias à espera de avistar os animais, e com um dispositivo de captura com armadilhas em jaulas e câmaras de controlo remoto preparado, o resultado foi negativo e a equipa teve de desistir. Ainda chegou a procurá-los mais tarde mas sem resultados.

Foi, então, com surpresa que estas imagens provaram a sobrevivência dos dois linces que, “apesar da sua tenra idade, com cerca de três meses, continuam hoje estabelecidos na região de Guadalmellato”, segundo o Iberlince.

“O caso de Limbo e Larus é um claro exemplo de que em áreas com densidades médias-altas de coelhos, a sobrevivência de indivíduos órfãos e de tenra idade é possível.”

 

Hoje há mais de 300 linces-ibéricos em liberdade

 

Segundo os mais recentes dados do censo à população de lince-ibérico em liberdade, referentes a 2014, existem 327 linces em quatro populações da Andaluzia. A maior continua a ser a de Andújar-Cardeña (com 161 linces), seguida de Doñana (com 80), Guadalmellato (45) e Guarrizas (41). Estas duas últimas são as populações mais recentes, com reintroduções que começaram em 2010 e 2011, respectivamente.

Para o Vale do Guadiana – assim como para Hornachos-Vale del Matachel (Extremadura espanhola) e para Campo de Calatrava y Montes de Toledo (Castela-La Mancha) – ainda não se podem considerar existirem populações propriamente ditas, uma vez que as reintroduções só começaram em 2014.

Estes locais foram escolhidos para tentar criar quatro novas populações desta espécie (com cinco fêmeas por área) – em Portugal, na Extremadura espanhola, Castela-La Mancha e continuar o trabalho na Andaluzia – no âmbito do programa ibérico Iberlince. O objectivo é recuperar a distribuição histórica do lince.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.