Tigre-de-Amur recuperado dá à luz duas crias na natureza

Uma fêmea de tigre siberiano órfã, que foi recuperada e libertada na natureza, deu à luz duas crias, revelaram conservacionistas russos. Esta história aumenta a esperança na sobrevivência da espécie.

 

As imagens das duas crias a brincar na Reserva Natural de Bastak – área protegida com 420 quilómetros quadrados na Rússia – chegaram nesta quarta-feira às mãos dos conservacionistas. E foram uma surpresa.

Acredita-se que esta terá sido a primeira vez que um tigre-de-Amur (Panthera tigris altaica) – também conhecido por tigre siberiano – devolvido à natureza conseguiu reproduzir-se com sucesso. Estima-se que restem apenas 500 animais em estado selvagem, depois de décadas de caça ilegal e desflorestação.

A fêmea, chamada Zolushka (“Cinderela” em russo), foi encontrada em Fevereiro de 2012 quando era uma cria de quatro meses, a morrer de fome e frio. A mãe teria sido morta por caçadores furtivos.

Zolushka foi levada para o Centro de Reabilitação Alekseyevka – gerido pela Inspection Tiger e apoiado pela Sociedade de Geografia Russa – onde foi recuperada e mantida longe dos humanos. Em Maio de 2013, aos 20 meses, foi devolvida à natureza na Reserva Natural de Bastak, na Rússia. Levou um colar com um transmissor e foi acompanhada por guardas florestais e pelas câmaras de controlo remoto. Rapidamente começou a caçar javalis, veados e texugos.

A 9 de Dezembro deste ano, Ivan Podkolnokov – o inspector da reserva responsável pela monitorização de Zolushka – regressou do campo com fotografias históricas: Zolushka debaixo de um pinheiro com duas crias aninhadas junto a si.

O nascimento destas duas crias foi uma surpresa porque os tigres desapareceram das florestas de Bastak há 40 anos. Mas um macho solitário percorreu cerca de 200 quilómetros para ali chegar, vindo do Norte.

“Este é um grande dia para a Reserva de Bastak”, disse Aleksandr Yuryevich Kalinin, director da área protegida, em comunicado. “Isto demonstra que ainda há espaço aqui para os tigres.”

Dale Miquelle, director da WCS (Wildlife Conservation Society) russa, considera que estes nascimentos “marcam o regresso dos tigres aos habitat que tinham perdido e o início da recuperação e expansão da última população de tigres-de-Amur”.

Estes tigres são uma das seis subespécies de tigres no mundo. É a mais setentrional e a maior de todas. Estão classificados como Em Perigo na Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.