Foto: Joana Bourgard

A partir de Janeiro poderemos investir na recuperação de espaços para a natureza

O projecto Ecocréditos, da associação ZERO, oferece a possibilidade de os cidadãos investirem em terrenos que ofereçam serviços dos ecossistemas e/ou que precisem de ser recuperados para a conservação da natureza.

O objectivo maior, explica a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, é “mobilizar a sociedade portuguesa para participar ativamente na valorização dos serviços dos ecossistemas e na preservação da biodiversidade”.

Como? Através de um mecanismo voluntário em que os cidadãos e empresas remuneram proprietários que promovam acções de restauro dos ecossistemas, preferencialmente em espaços da Rede Natura 2000.

Coruja-do-mato (Strix aluco). Foto: Peter Trimming/Wiki Commons

Tudo assenta no princípio dos serviços dos ecossistemas, ou seja, os benefícios que as sociedades humanas obtêm dos ecossistemas. Entre eles estão o sequestro do carbono, a qualidade do ar, a qualidade e disponibilidade de água, a preservação da diversidade genética, a prevenção da erosão dos solos, a regulação do ciclo de nutrientes, a polinização e a mitigação de catástrofes naturais.

Segundo a ZERO, “o valor dos ecocréditos angariados servirá para financiar diretamente uma bolsa de projetos de proprietários que promoverão ações de restauro dos ecossistemas”.

Essa bolsa reunirá projetos candidatados por proprietários, arrendatários ou usufrutuários de propriedades rústicas com habitats ou espécies que precisem de ações de conservação.

Souto da Lapa, Serra da Estrela. Foto: Wilder

“A área destes terrenos afeta à conservação e ao fornecimento de serviços de ecossistema é convertida em ecocréditos, em que um metro quadrado corresponde a um ecocrédito que poderá ser adquirido por pessoas singulares e coletivas num plano anual de subscrição.”

O valor de cada ecocrédito, 1 euro, será convertido num metro quadrado de intervenção em terrenos selecionados.

Segundo a ZERO, “o investimento será alocado a ações que permitam reabilitar os ecossistemas (70%), à remuneração dos proprietários/gestores dos terrenos que contratualizem a aplicação de ecocréditos com o sistema (25%) e à auditoria, monitorização e avaliação das ações concretizadas no terreno (5%)”.

um pisco de peito ruivo no ramo de uma árvore
Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

A constituição da bolsa de projetos começará a ser constituída a partir de Dezembro e o período de subscrição de ecocréditos por pessoas singulares e coletivas decorrerá no final de Janeiro.

O projecto é financiado pelo Fundo Ambiental, no âmbito da Estratégia Nacional de Educação Ambiental 2020, na área da promoção de uma cultura cívica que valorize e património natural português e que permita à sociedade viver de forma sustentável com os recursos naturais dentro dos limites do planeta.


Já que está aqui…

Apoie o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.

Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

O calendário pode ser encomendado aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.