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Foto: Joana Bourgard / Wilder

Ajude as aves dos seus jardins a passar o Inverno

O Inverno pode ser uma estação mais exigente para muitas aves, sobretudo para as mais pequenas. Falámos com Julieta Costa, do Programa Terrestre da Spea (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), para saber o que pode fazer para as ajudar.

Espécies mais comuns que poderá encontrar nos seus jardins: piscos-de-peito-ruivo, pardais, pintassilgos, toutinegras, felosas, chapins, alvéolas, verdilhões e carriças.

Disponibilize água: Em Portugal, onde é raro nevar e fazer um frio demasiado rigoroso, mais importante do que o alimento é a água para as aves beberem e tomarem banho. Procure um local abrigado para colocar um recipiente com água. Mas se quiser mesmo fidelizar as aves, arranje uma fonte de água corrente que, além de evitar a estagnação, traz o barulho irresistível do gotejar. Pode improvisar uma fonte, por exemplo, pendurando uma garrafa cheia de água, com um furo na ponta, por cima de um tanque.

Instale comedouros: Pode disponibilizar uma mistura de alpistas, migalhas de pão seco e sementes de tamanhos diferentes, desde que não tenham sal e nem sejam torradas. Os comedouros podem ser plataformas, com uma cobertura para evitar que a chuva molhe o alimento – as aves não comem grãos molhados e é preciso ter cuidado para que estes não apodreçam – , ou podem estar pendurados. Aliás, são estes que os chapins preferem porque imitam os galhos das árvores, baloiçando no ar. E não precisam de ser muito elaborados; pode aproveitar as redes que embalam alhos ou cebolas para colocar a mistura de sementes ou cascas de côco.

Evite curiosos: Limpe os comedouros regularmente e assim evita problemas. Não ponha alimento em excesso para não fermentar e atrair outros animais, como as moscas. Pode também colocar pequenos obstáculos anti-ratos e anti-gatos.

Dê-lhes árvores antigas e frondosas: Se tiver espaço, dê importância às árvores, especialmente as antigas e frondosas. Há grandes possibilidades de servirem de dormitórios para os pardais no Inverno, por exemplo. Para saber se uma árvore é dormitório procure, antes do pôr-do-sol, as que têm uma grande chilreada; com o cair da noite impõe-se o silêncio. Além de abrigo para a noite, as árvores antigas têm outros encantos para as aves. As trepadeiras e os chapins, por exemplo, alimentam-se de insectos que põem larvas debaixo da casca de troncos de árvores velhas, como os choupos. As árvores de fruto, como a macieira e a pereira, também são boas apostas.

Faça-as sentir em casa: Crie recantos, com árvores, arbustos e plantas de diferentes tamanhos, que se assemelhem a habitats diferentes. As plantas trepadeiras – como a hera e a salsa-parrilha – ajudam a proteger do sol, especialmente nas varandas mais expostas.

Vegetação para bagas e para atrair insectos: Nas regiões de clima mais ameno, a partir de Fevereiro pode começar a fazer as plantações. Opte por rosmaninho, urze, murta e heras para atrair pequenos insectos, pela silva onde as toutinegras gostam de se esconder, pelos folhados e pela roseira-brava, cujos botões são uma delícia para algumas aves. Tem ainda como boas opções a madressilva, sabugueiro, espinheiro, pilriteiro e medronheiro (com as suas bagas), azevinho e os girassóis.

Instale caixas-ninho: Janeiro é uma boa altura para colocar caixas-ninho em locais com alguma envolvência de vegetação, para as aves se habituarem a tempo da nidificação na Primavera. É agora que a maioria das aves começa a tentar definir o seu território – ou seja, uma zona que tenha alimento e que seja um local sossegado, com água perto – e faz cantos para encontrar um parceiro. Normalmente, em Fevereiro já têm o seu território definido. Ao pôr agora a caixa-ninho, esta já fará parte desse território. Mas nem todas as aves escolhem os mesmos ninhos. Os chapins, carriças e pardais preferem as caixas com uma pequena abertura redonda; já os verdilhões e as trepadeiras preferem caixas com aberturas maiores.

Crie pontos de interesse: Pense duas vezes antes de varrer todas as folhas caídas. Deixe algumas onde estão e ponha-as em pequenos montes. As aves gostam muito de ir lá procurar minhocas e pequenos insectos. Além disso, montes de folhas secas servem também de abrigo e cobertura.

Vá buscar os binóculos e aproveite: Agora que criou um pequeno recanto para a natureza, aproveite para apreciar as aves mais de perto. Pode também registar as espécies que está a observar. O Censo das Aves Comuns, da Spea, vai realizar-se de Abril a Maio. Até lá, tem tempo para se preparar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.