Foto: Pedro Humberto Castro

As aranhas camufladas (e outras) que fascinam Pedro Humberto Castro

Início

Ligado ao centro de investigação CIBIO-InBIO, da Universidade do Porto, este biólogo trabalha actualmente com biologia molecular de plantas e confessou à Wilder a sua admiração por um grupo muito diferente, as aranhas. Saiba porquê.

Sempre que encontra um destes seres de oito patas com uma aparência interessante e numa pose convidativa, Pedro Humberto Castro não resiste a disparar a câmara fotográfica do telemóvel, tal como há alguns anos andava armado com uma câmara fotográfica, pronto a sacar da máquina quando uma ocasião surgisse.

Mas porquê esse interesse por aranhas, quando o trabalho que faz em laboratório, no dia-a-dia, gira essencialmente à volta das plantas? Trata-se de um interesse que “já é antigo, muito antes de ingressar na vida académica”, explicou à Wilder este investigador. “Desde miúdo que inspeciono a natureza, à procura de animais e de plantas invulgares, e admito que as aranhas sempre me provocaram um certo fascínio.”

São muitas as razões. Em primeiro lugar, porque são “animais enigmáticos, causadores de fobias e simbolismos, mas com papéis ecológicos absolutamente essenciais”. Além disso, faz notar, as aranhas “são um grupo de animais muito diversificado, com diferentes formas e cores que usam para camuflar, escapando a predadores ou para emboscar as presas”. Interessante também é o facto de “mimetizarem insectos, parecendo-se por exemplo com formigas.”

Registar um leque tão variado de comportamentos, “seja pela produção de teia, métodos de caça ou de reprodução”. Um dos aspectos que mais lhe interessam, aliás, é a capacidade que estes seres têm de se confundirem com o que os rodeia. “As aranhas são predadoras excecionais, muitas caçam por emboscada e daí a sofisticação em estratégias de camuflagem e mimetismo.”

Apesar de não ser um especialista neste grupo que tem cerca de 830 espécies conhecidas em Portugal, Pedro Humberto Castro sabe que “a aparência e perfil das aranhas tendem a estar correlacionados com o seu habitat”.

“As aranhas-caranguejo (família Thomisidae) são exemplos de uma fantástica panóplia de cores que se confundem com as flores ou a vegetação”, exemplifica, lembrando uma fotografia que tirou no Parque Nacional da Peneda-Gerês, durante o Verão.

Segundo Pedro Sousa, biólogo que colabora com o consultório “Que Espécie é Esta?” e que tem experiência na identificação de espécies de aranhas e de escorpiões autóctones de Portugal, esta (na foto abaixo) será provavelmente uma aranha do género Xysticus ou até Ozyptila, ou de géneros muito semelhantes, uma vez que nos últimos anos várias aranhas foram colocadas em novos grupos dentro da família Thomisidae.

Já as aranhas da família Araneidae, “que fazem teias circulares, para além de cores diversas também apresentam formas invulgares como dejetos de pássaros ou espinhos”, descreve por sua vez Pedro Humberto Castro, que fotografou um dos membros desta família escondido entre os musgos da Peneda-Gerês, também num Verão.

Pedro Sousa concorda com a família desta aranha e acrescenta que poderá tratar-se de uma Agalenatea redii – também conhecida pelo nome comum tecedeira-de-veludo – embora pela fotografia não seja possível ter cem por cento de certeza de que será essa a espécie.

Entretanto, sejam “camufladas” ou não, Pedro Humberto Castro vai continuar armado de um telemóvel a “caçar” as aranhas que encontra ao seu redor. E apesar de o fazer principalmente nos tempos livres, esta paixão nem sempre é distinta do seu trabalho, ressalva. Embora as moléculas das plantas sejam o que mais o ocupa, o investigador do CIBIO já participou “em trabalhos de recolha de aranhas para identificação de novas espécies”, mas também para avaliar a qualidade do estado ambiental. É que estes seres de oito patas, além de serem fascinantes, são também “excelentes bioindicadores”, ajudando a detectar se um local tem poluição, por exemplo.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.