Foto: Rui Félix

Cientistas pedem a nossa ajuda para saber onde andam 16 invertebrados

Os investigadores que estão a avaliar a situação de espécies de insectos e outros invertebrados em Portugal Continental lançaram agora uma nova campanha de ciência cidadã: “Invertebrados da Lista Vermelha procuram-se”.

 

Em causa estão os trabalhos da Lista Vermelha de Invertebrados, um projecto financiado por fundos comunitários que tem como objectivo avaliar o estatuto de conservação de centenas de espécies, incluindo insectos, moluscos de água doce, crustáceos e aranhas. Com essa informação, a equipa vai publicar a primeira Lista Vermelha destes organismos em Portugal Continental, onde descreve a situação de cada espécie.

 

Macho de libélula-esmeralda (Oxygastra curtisii). Foto: Albano Soares

 

O desafio agora lançado pede a todos os interessados que fotografem e registem 16 espécies muito diversas na plataforma BioDiversity4All. Destas, metade são protegidas em Portugal e têm falta de dados: a borboleta nocturna Proserpinus proserpina,  a libélula-esmeralda (Oxygastra curtisii), o louva-a-deus-dos-olhos-pontiagudos (Apteromantis aptera), a tarântula Macrothele calpeiana, os mexilhões-do-rio Margaritifera margaritifera e Unio tumidiformis, a lesma Geomalacus maculosus e a sanguessuga Hirudo medicinalis.

 

Tarântula Macrothele calpeiana. Foto: Pedro Cardoso

 

A escolha da lista passou por invertebrados fáceis de identificar e que não são extremamente raros, para serem avistados e reconhecidos pelo público em geral. É por exemplo o caso da vespa-europeia (Vespa crabro), da mosca-das-dunas-lusitânica (Tethina lusitanica) e do grilo-de-pala (Sciobia lusitanica).

 

Mosca-das-dunas-lusitânica (Tethina lusitanica). Foto: Ana Rita Gonçalves

 

“Queremos dar a conhecer a diversidade e importância dos organismos invertebrados que ocorrem no nosso país e, sobretudo, promover o envolvimento dos cidadãos no trabalho que estamos a desenvolver para a sua conservação”, explicou à Wilder a coordenadora executiva do projecto, Carla Rego.

Apesar da enorme variedade e de “serem essenciais para a nossa sobrevivência e bem-estar”, insectos e outros invertebrados “são os ‘mal-amados’ em termos de conservação”, sublinha a investigadora. À falta de conhecimento geral sobre o papel importante que têm, junta-se a “percepção negativa” de muitas pessoas, com “medo, nojo ou repulsa” de algumas espécies.

 

Crustáceo de água doce Triops baeticus. Foto: Maria José Caramujo

 

Resultado? “Esta discriminação tem repercussões negativas também a nível do estabelecimento de prioridades de conservação e, consequentemente, no financiamento disponível para o desenvolvimento de trabalhos relacionados com os invertebrados.”

Em Portugal, sabe-se que existem 15 espécies de invertebrados protegidas pelas leis da União Europeia, através da Directiva Habitats, mas esse é um facto desconhecido para a maioria das pessoas.

 

“Existe uma grande lacuna de informação”

Por outro lado, quem colaborar vai contribuir para a recolha de novos dados. Tanto para estas 16 espécies como para a maioria das cerca de 700 que a equipa também está a avaliar, “existe uma grande lacuna de informação sobre a sua distribuição, abundância e ecologia.”

 

Neuróptero-das-duas-pernas (Nemoptera bipennis). Foto: Rui Félix

 

Além do mais, devido à pandemia, não chegaram a realizar-se alguns trabalhos planeados para o projecto, que está agora no início do terceiro e último ano.

Num primeiro período, os cientistas do Tagis e do Biota – duas entidades que estão a trabalhar para a Lista Vermelha – “percorreram incansavelmente todo o país para a recolha de informação importante sobre as espécies-alvo”. Agora passou-se a uma nova fase, em que se estão a avaliar os riscos de extinção para algumas dessas espécies.

“A participação dos cidadãos na campanha ‘Invertebrados da Lista Vermelha Procuram-se’ será muito importante, pois permite obter informação que será tida em consideração neste processo de avaliação que estamos a desenvolver”, sublinha Carla Rego.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Saiba mais e aprenda a identificar cada uma das 16 espécies de invertebrados incluídas nesta iniciativa, aqui.

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.