Tapada do Saldanha. Foto: Maria João Horta Parreira

Cinco factos curiosos sobre os bugalhos

Maria João Horta Parreira, da associação Plantar uma Árvore, explica o que são os bugalhos, para que servem e como distingui-los das bolotas.

 

Os bugalhos são frutos?

Confundir bolotas com bugalhos não é vergonha nenhuma. À primeira vista podem parecer estruturas semelhantes. Mas são coisas bem diferentes. A bolota é o fruto dos carvalhos, um fruto seco, de uma só semente que permanece no seu interior, e é constituída pela semente e pericarpo (a camada externa do fruto que protege a semente). Os bugalhos são galhas, isto é, multiplicações celulares que se formam nos órgãos das plantas como resposta à picada de insectos ou ao ataque de fungos, bactérias ou nemátodos. Assim, os bugalhos não são frutos, mas estruturas que as plantas produzem em resposta a agressões externas.

 

Tapada do Saldanha. Foto: Maria João Horta Parreira

 

Há bugalhos diferentes ou são todos iguais?

Tal como as bolotas de cada espécie de carvalho têm diferenças entre si, também cada bugalho é específico de cada agente (chamado galhador), o que se irá manifestar num aspecto único, como a forma e a cor. Há bugalhos mais ou menos esféricos, com ou sem picos e de várias tonalidades. Além do agente causador, os bugalhos também variam consoante o local da picada e as plantas afectadas.

 

Bugalho encontrado na Estrada da Serra

 

Onde podemos encontrar bugalhos?

Em muitas plantas, como por exemplo os carvalhos, os castanheiros e o umbigo-de-vénus. Os carvalhos são particularmente sensíveis à formação de bugalhos, sendo os mais comuns causados por insectos himenópteros (do grupo das abelhas, vespas e formigas). As interacções entre as plantas e os insectos sempre ocorreram de um modo natural e espontâneo, como é o caso dos carvalhos.

 

Para que servem os bugalhos?

Geralmente, os bugalhos funcionam como local para os insectos depositarem os seus ovos em segurança, protegidos de possíveis predadores. Esta é a estratégia adoptada pela vespa das galhas (Cynips tozae), por exemplo. Esta procura locais para depositar os seus ovos, que os possam proteger e ser fonte de alimento durante as metamorfoses, para que o ciclo de vida se possa completar até à fase adulta. Nesta altura, sairá do bugalho o que pode ser comprovado pelo orifício que deixa no mesmo.

Além de promoverem abrigo e alimento para os agentes que as provocam, os bugalhos também podem ser reaproveitados por outros insectos que os usam para se abrigarem quando os galhadores já abandonaram o bugalho.

Nas zonas rurais, muitas pessoas brincaram na infância, usando os bugalhos como berlindes ou personagens imaginárias. Os bugalhos podem contribuir para o equilíbrio ecológico, para o controlo de espécies exóticas invasoras e também podem ser exploradas potencialidades a nível medicinal, agrícola e até artístico. Sendo ricos em taninos, podem ser úteis no fabrico de tintas naturais. Cada caso terá um contexto muito próprio, em termos dos benefícios ou prejuízos associados.

 

Sobreiros e um tapete do carvalho anão ou carvalheira, na Estrada da Serra

 

Como podem os bugalhos ajudar-nos a controlar espécies invasoras?

O controlo biológico de espécies invasoras em Portugal, como a acácia das espigas (Acacia longifolia), aplica a estratégia dos insectos galhadores em seu proveito, explorando o facto de a picada destes insectos poder danificar as gemas florais das plantas. Além do dispêndio energético na formação dos bugalhos, não se formarão flores nesse local, e por isso não se formarão frutos nem, consequentemente, as sementes. Desde 2015, tem-se utilizado um insecto australiano, o Trichilogaster acaciaelongifoliae, para controlar essa acácia, originária do mesmo país. Esse insecto tem sido usado como um agente de controlo natural, já que promove as galhas nessa espécie, especificamente nas gemas florais, comprometendo o sucesso reprodutivo dessa acácia.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez

Os carvalhais são muito importantes e contribuem de várias formas para a preservação da biodiversidade, protecção dos solos e regulação do ciclo hidrológico. Com os seus bugalhos ajudam a promover a vida de inúmeras espécies de insetos. Com as suas bolotas, contribuem para o alimento de outros animais – como os gaios, esquilos e javalis – que ajudam na dispersão das sementes dos carvalhos. Promovem o abrigo e a protecção de espécies animais e vegetais, bem como o desenvolvimento de cogumelos.

A natureza é fantástica. Quando encontrar um carvalho, pode confirmar se existem bolotas ou bugalhos, dependendo da época do ano, e lembrar a expressão adaptada: “Quem bugalho vê, bolota lhe pode parecer”. As bolotas geralmente são recolhidas nos meses de Setembro e Outubro mas a época da frutificação dos carvalhos dependerá da espécie em causa, do local e condições ambientais onde se encontra, assim como a existência dos bugalhos.

Torne-se um detective de bugalhos e partilhe as suas descobertas com o grupo de investigadores que criou o projecto “Galhas de Portugal”. Todos podem participar como cidadãos-cientistas, enviando fotos dos bugalhos encontrados, com as coordenadas respetivas do local onde foram registados.

Esteja atento às acções da Associação Plantar uma Árvore que, ao longo do ano e com a ajuda de voluntários, contribui para a conservação da nossa floresta nativa e da sua biodiversidade.