Mosca da espécie Episyrphus balteatus. Foto: Rui Andrade

Como é que as moscas são tão mais rápidas do que os humanos?

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A resposta é surpreendente. Rui Andrade, especialista nestes pequenos insetos e dinamizador do grupo português Diptera no Facebook, explica o que torna as moscas tão difíceis de apanhar.

Em Portugal, incluindo Açores e Madeira, são hoje conhecidas cerca de 3000 espécies de moscas e mosquitos – incluindo a mosca-doméstica (Musca domestica), que frequenta as nossas casas; a Musca autumnalis, uma das mais comuns e que prefere as pastagens; ou o grupo das moscas-das-flores. Estas últimas, conhecidas como sirfídeos, podem ser encontradas em jardins e imitam as abelhas e as vespas para afugentar predadores.

Mosca-doméstica (Musca domestica). Foto: Rui Andrade
Musca autumnalis. Foto: Rui Andrade

Mas o número de espécies de moscas e mosquitos “está em constante evolução”, uma vez que surgem descobertas novas todos os anos, adianta Rui Andrade.

Tanto umas como outros pertencem à ordem Diptera, um termo que teve origem em Aristóteles e que significa “duas asas” (di + pteron). “A maioria dos insetos possui quatro asas funcionais, mas nos dípteros o par posterior evoluiu para duas estruturas em forma de clava, denominadas balanceiros ou halteres, que têm como função ajudar a manter a estabilidade durante o voo.”

Mosca da espécie Meredon equestris. Foto: Rui Andrade

Mas porque é tão difícil apanhar uma mosca? Poderia dar-se o caso deste grupo de insectos ter um sentido de audição muito desenvolvido e por isso detectarem qualquer movimento, por mais pequeno que fosse. Mas não. “A maioria das moscas não ouve, elas detectam os predadores sobretudo através da visão.”

Mosca da espécie Episyrphus balteatus. Foto: Rui Andrade

Na verdade, para as moscas e para outros pequenos insectos, os cientistas demonstraram que o tempo é percepcionado de forma diferente. “Há estudos que mostram que as moscas vêem o mundo em câmara lenta”, explica Rui Andrade, que adianta que essa característica “está relacionada com o tamanho do animal e com o seu metabolismo”.

Mosca da espécie Psilota atra. Foto: Rui Andrade

“Os cérebros dos animais percepcionam a passagem do tempo através do processamento de imagens a diferentes velocidades. Os animais mais pequenos tendem a processar mais imagens por segundo, o que faz com a que o tempo pareça correr mais lentamente.”

Mosca da espécie Spilomyia digitata. Foto: Rui Andrade

Assim, para uma mosca, os ponteiros de um relógio mexem-se muito mais devagar do que para um humano. Se há uma mão a tentar apanhá-la, para a mosca é como se estivesse a vê-la em câmara lenta, pelo que tem muito tempo ainda para levantar voo.

E esta regra aplica-se também a outros animais, não se fica pelos insectos, pois “regra geral, quanto mais pequeno for o animal e quanto mais rápido for o seu metabolismo, mais lentamente é percepcionada a passagem do tempo.”

Mosca da espécie Sphaerophoria scripta. Foto: Rui Andrade

Mas há um grupo de moscas conhecidas como caliptrados que têm ainda uma vantagem adicional, acrescenta o mesmo especialista. As moscas deste grupo, como por exemplo a mosca-doméstica e as varejeiras, usam os halteres (as duas estruturas em forma de clava que surgiram a partir das asas posteriores) para estabilizarem o voo logo durante as descolagens e não apenas durante o próprio voo. Isso permite-lhes uma fuga ainda mais rápida quando alguém as tenta caçar.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.