Conheça cinco aves que já começaram a migrar para África

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Já começou a migração outonal de várias espécies de aves que, todos os anos, deixam o nosso país em direcção a África onde vão passar o Inverno. Gonçalo Elias sugere estas cinco espécies de entre as muitas que já começaram a sua viagem e que só voltaremos a ver para o ano.

Desengane-se quem pensa que as migrações outonais das aves só acontecem… no Outono.

Em pleno mês de Agosto, muitas são as espécies de aves que já estão de partida para África, depois de terem nidificado em Portugal e de terem tido as suas crias que agora já aprenderam a voar. Vão em busca de maior disponibilidade de alimento em terras onde o Inverno não é tão frio.

Só as voltaremos a ver para o ano.

A grande maioria destas aves voa para o continente africano. “Algumas destas espécies têm pequenas populações invernantes na Europa, mas são a minoria”, explicou à Wilder Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal.

Ainda assim, “quando dizemos que ‘a migração já começou’ isso não significa necessariamente que todos os indivíduos estejam já a realizar a migração”, salientou este perito. “Alguns partem mais cedo e outros mais tarde, portanto alguns podem já ter ido e outros ainda estão por cá.”

Por exemplo, já devem estar a partir em migração os primeiros andorinhões-pretos (Apus apus) mas, segundo Gonçalo Elias, os últimos só desaparecem de Portugal em Outubro.

Entre as aves que já começaram a sua viagem estão estas cinco.

Abelharuco (Merops apiaster):

Abelharuco. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

Os abelharucos são das aves mais coloridas da nossa fauna e podem ver-se mais facilmente no Sul e Interior Centro do país.

Todos os anos, estas pequenas aves coloridas costumam chegar a Portugal entre o final de Março e o início de Abril para aqui nidificarem. São mais fáceis de observar enquanto constroem os ninhos e na fase em que alimentam as crias, mas é necessário ter muito cuidado para não os perturbar na época de reprodução.

Depois, ainda no Verão, fazem milhares de quilómetros entre Portugal e África para aí passarem o Outono e Inverno, onde há mais alimento disponível. Nesta altura do ano, já partiram os primeiros abelharucos.

Saiba mais aqui sobre o estudo que colocou minúsculos geo-localizadores em abelharucos que nidificavam nas zonas de Barrancos e Idanha-a-Nova para saber para onde iam em África no Inverno.

Andorinhão-preto (Apus apus):

Andorinhão-preto (Apus apus). Foto: pau.artigas/Wiki Commons

Todos os anos, os andorinhões-pretos (Apus apus) viajam mais de 20.000 quilómetros desde a Península Ibérica até África. Podemos vê-lo de Março a Outubro de Norte a Sul do país. Os primeiros já começaram a voar para África.

Uma das características mais curiosas dos andorinhões é que passam praticamente toda a vida a voar, mesmo enquanto dormem. Na verdade, isso só não acontece na altura da nidificação, em que precisam de cuidar dos ovos e das pequenas crias. Estas últimas por vezes caem do ninho e precisam de ajuda. Se encontrar uma destas aves, o melhor a fazer é encaminhá-las o mais depressa possível para um dos centros de recuperação de animais selvagens do país.

Conheça três espécies de andorinhões em Portugal e aprenda como identificá-las.

Milhafre-preto (Milvus migrans):

Foto: Mike Prince/Wiki Commons

O milhafre-preto – que também é conhecido como rabo-de-bacalhau ou milhano-preto – é uma das aves de rapina diurnas mais frequentes em várias regiões do país, segundo o livro “Aves de Portugal – Ornitologia do território continental” (2010, Assírio & Alvim).

Esta ave de voo flutuante e tranquilo é frequentemente vista a caçar ao longo das estradas ou sobre zonas de água. Alimenta-se tanto de presas vivas – mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios e crustáceos – como de animais mortos e até de restos e lixo.

O milhafre-preto é uma espécie migradora, que está presente no nosso território de Março a Agosto. O Inverno é passado em África, a sul do deserto do Saara.

Andorinha-das-barreiras (Riparia riparia):

Andorinha-das-barreiras. Foto: Ken Billington/WikiCommons

A andorinha-das-barreiras está em Portugal entre Março e Setembro e é uma espécie migratória protegida por lei. Todos os anos voa milhares de quilómetros entre o nosso país e o continente africano, onde costuma passar o Inverno.

Empreende as suas viagens durante o dia, podendo percorrer mais de 300 quilómetros de uma só vez e alimentando-se ao longo do percurso.

Esta pequena andorinha é a única andorinha de Portugal que escava os seus ninhos em vez de os construir. Esses abrigos são escavados tipicamente em taludes verticais arenosos ou barrentos.

Saiba mais aqui sobre as mega-colónias de andorinhas-das-barreiras em Lousada.

Felosa-de-bonelli (Phylloscopus bonelli):

Felosa-de-bonelli. Foto: Kookaburra81/WikiCommons

“A felosa-de-bonelli é uma espécie estival, que chega geralmente em princípios de Abril e está presente até Agosto, mês em que existem bastantes observações de aves em passagem, junto ao litoral”, segundo o portal Aves de Portugal.

Esta pequena felosa – do mesmo tamanho de uma felosa-comum e com plumagem em tons verdes e acinzentados – é um ícone dos bosques de carvalho-negral e dos pinhais do nordeste de Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.