Ouriço. Foto: Alexandra München/Pixabay

Covid-19: o estado de emergência e o renascer dos habitats

A leitora Mafalda Campos conta-nos o que nota de diferente na natureza – ouriços, aves de rapina, pirilampos ou rouxinóis – em Almargem do Bispo, onde vive.

Mafalda Campos vive numa localidade do concelho de Sintra, freguesia de Almargem do Bispo, “uma verdadeira sorte em tempos como os que atravessamos”. 

“Se para nós humanos a Covid-19 tem estado a ter consequências nefastas, para a natureza e para algumas das suas espécies, este será em décadas, o seu verdadeiro festim”, contou à Wilder.

Ouriço. Foto: Alexandra München/Pixabay

“Em Março, início da primavera, o país entrou em lockdown – Estado de emergência. Foram cancelados voos, as pessoas obrigadas a ficar em recolhimento, comércio e indústrias encerradas”, recorda.

“Este estado de emergência serviu-nos a nós humanos para tentar travar a disseminação da pandemia. Para a natureza serviu-lhe esta paragem forçada para dar início a um rejuvenescimento necessário há décadas.”

Mafalda Campos foi registando as alterações na natureza à sua porta.

“Começámos por notar, após as primeiras semanas de confinamento, que se respirava melhor. O ar não era tão denso, o ruído praticamente inexistente.” 

Foto: Johan Hansson / Wiki Commons

“Joaninhas, besouros e outros insetos que noutros anos já eram uma raridade proliferavam, e multiplicavam-se. As abelhas, raramente já vistas, andavam numa enorme azáfama.”  

Segundo Mafalda Campos, “a proibição da caça fez com que houvesse maiores concentrações de roedores (nomeadamente coelhos e murganhos), e após décadas em que visualizávamos raramente aves de rapina, começámos a ver dezenas de peneireiros e águias”. 

“As noites tinham um encanto muito maior. Ao invés de luzes e barulhos de aviões, o jardim ficava cheio de luz… graças às centenas de pirilampos!”

Joaninha. Foto: Myriams/Pixabay

Uma grande variedade de espécies tornou-se mais notada.

“Uma coruja branca, no pinheiro ao lado, pousava majestosa a observar e o canto do rouxinol, perfeito e limpo, ecoava nos campos.” 

“A mãe ouriço atravessava com os seus filhotes a rua descansadamente para ir alimentar-se em conjunto com a família.”

“E agora no Outono, com o fim dos dias quentes e as primeiras chuvas, surgem ninhos de agúdias que irão formar novas colónias de formigas e manter as suas gerações pelos anos vindouros.”

Cogumelos, musgo, floresta. Foto: Andreas/Pixabay

Para a leitora, a mensagem é clara. “O que estragamos em décadas, esta pandemia repôs em meses. Se a racionalidade é exclusiva de nós humanos, não será chegada a altura de pensarmos que há espaço para todos (racionais e irracionais) e que há que mudar o atual rumo?”  

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.