Decticus albifrons, Serpa, 6 de Agosto de 2017. Foto: Albano Soares
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Que espécie é esta: insecto capturado por um peneireiro-das-torres

O leitor Frank perguntou à Wilder qual a espécie de insecto no bico do peneireiro-das-torres que fotografou. Saiba qual é.

A fotografia foi tirada a 8 de Junho no Alentejo. “Durante esta semana havia milhões destes insectos em todo o lado nas planícies”, explicou-nos.

 

 

A espécie que observou é um Déctico-da-face-branca (Decticus albifrons).

Espécie identificada e texto por: Eva Monteiro, Rede de Estações da Biodiversidade, Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.

 

 

O peneireiro-das-torres das fotografias feitas pelo leitor está a comer um delicioso déctico-de-face-branca (Decticus albifrons), outra espécie da Ordem Orthoptera, neste caso um saltão (Família Tettigoniidae), e um dos maiores saltões que podem ser vistos no nosso país. Este é um macho.

Os décticos-de-face-branca são insetos tipicamente mediterrânicos que gostam de áreas abertas como as da planície alentejana onde o Frank diz ter observado “milhões” em Junho do ano passado. Pelas grandes dimensões e grande número em que aparecem são uma excelente fonte de alimento para as rapinas e outras aves protegidas que habitam as pseudo-estepes cerealíferas do Alentejo.

Como todos os saltões, têm as antenas muito compridas, ultrapassando bastante o comprimento do corpo, e as fêmeas têm o ovipositor muito desenvolvido e em forma de espada (ver imagem).

 

Decticus albifrons fêmea, Serpa, 6 de Agosto de 2017. Foto: Albano Soares

 

Distinguem-se pelas suas grandes dimensões, com o corpo cor-de-palha e a cabeça clara e volumosa. O desenho reticulado das asas anteriores é também característico da espécie.

O canto dos machos evoca os dias quentes de Verão, altura em que se encontram no estado adulto. Na verdade, é mais fácil detetá-los através do canto, pois normalmente encontram-se escondidos entre a vegetação seca com a qual se confundem.

Francisco Barros, um dos poucos estudiosos portugueses desta ordem de insetos, lembra-se de “caçar” machos desta espécie quando era pequeno. Ele e os rapazes da aldeia colocavam-nos em gaiolas, por gostarem muito do seu canto alegre e ritmado. Então chamavam-lhes “cantadeiras-de-verão”, nome comum que talvez todos devêssemos adotar.

O déctico-de-face-branca pode ser observado nas Estações da Biodiversidade da Herdade da Ribeira Abaixo (Grândola), Ribeira do Torgal (Odemira) e Ribeira de Alportel (São Brás de Alportel).

Pode encontrar mais informações sobre esta espécie e ouvir o seu canto aqui.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.