um pisco de peito ruivo
Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Christiane/Pixabay

Sete censos de aves para participar em 2022

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Fique a saber porque é que ajudar a contar aves é tão importante. A Wilder falou com Hany Alonso, da SPEA, e sugere-lhe algumas acções a que se poderá juntar nos próximos meses.

Hoje em dia, são muitas as oportunidades para quem quer aprender sobre as aves, contribuindo também para o aumento do conhecimento científico. Apesar de muitos censos se realizarem sem ajuda de voluntários, há diversas iniciativas que pedem o envolvimento dos cidadãos comuns. Na praia, no campo ou na cidade, ou durante a noite.

Para que servem os censos?

Na verdade, os dados obtidos nos censos “podem ser usados de maneiras muito diversas”, explica Hany Alonso, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Entre outras coisas, podem ajudar a perceber qual é o tamanho de uma população ou espécie naquele momento exacto, ou a avaliar as tendências populacionais de uma ou mais espécies – se os números têm tendência para diminuir ou crescer – comparando com os resultados anteriores.

Muitas vezes, os dados obtidos por dezenas ou centenas de voluntários são usados em projectos e estudos científicos de nível nacional ou europeu, mas podem também ajudar a avaliar o estatuto de uma espécie – até que ponto está ou não em risco de extinção – e a definir projectos e acções de conservação.

Foi o que aconteceu por exemplo com os censos do priolo, uma ave emblemática da floresta laurissilva dos Açores.

Priolo (Pyrrhula murina). Foto: mark Putney/Wiki Commons

“A população de priolo sofreu um grande declínio durante a segunda metade do século XX, por perda e degradação de habitat”, lembra Hany Alonso. Graças aos censos dirigidos à espécie, realizados desde 1991, foi possível monitorizar a população e fazer uma estimativa de apenas 60 a 200 casais em 1996, altura em que estava classificada como Criticamente em Perigo.

“Após essa avaliação foram implementados vários projetos de conservação que se focaram na recuperação do habitat da espécie. Os resultados do censo de priolo obtidos entre 2008 e 2018 permitiram verificar um incremento do número de efetivos relativamente à década anterior, e que se tem mantido estável em torno dos 1000 indivíduos e permitiu a reclassificação do estatuto de conservação da espécie para Em Perigo em 2010, e para Vulnerável em 2016.”

Porque se pedem voluntários?

“Em Portugal realizam-se muitos censos e programas de monitorização de aves e claro que nem todos são realizados com a ajuda de voluntários”, explica Hany Alonso. “No caso da SPEA, uma associação que reúne ornitólogos amadores e profissionais com a missão de contribuir para o estudo e conservação da avifauna, mas cujos recursos financeiros e humanos são limitados, a maioria dos censos funciona com a ajuda de voluntários”, nota o mesmo responsável. “É um contributo único e valioso que todos damos para o mesmo fim, que é a conservação da avifauna.”

Como nos preparamos para participar?

Em muitos dos censos é preciso ter “experiência prévia na identificação da espécie ou espécies”, avisa o técnico da SPEA. Mas mesmo para um voluntário já experiente, “será útil rever a metodologia do censo e a identificação de algumas espécies alvo”. Existem ainda outras iniciativas mais dirigidas ao público em geral, como os censos dos grous e dos periquitos-de-colar, para as quais “não é necessária uma preparação tão grande”.

grou espreita num prado
Grou (Grus grus). Foto: tauri pärna wiki commons

[Uma alternativa aos censos são as acções de voluntariado ambiental, como a que está ligada ao projecto LIFE Ilhas Barreira, no Algarve. “Qualquer um pode juntar-se mas é necessária capacidade física para os trabalhos de campo.”]

Quais são os materiais necessários?

“Binóculos, bloco de notas ou telemóvel (para fazer os registos e anotar outras informações importantes) e também material de campo (chapéu, água, vestuário adequado).”

Sete censos em que podemos participar:

1. CAC – Censo de Aves Comuns

Pardal-comum (Passer domesticus). Foto: Arnold Paul

Este censo é de âmbito nacional e realiza-se desde 2004, com o objectivo de conhecer as tendências populacionais das aves que se reproduzem em Portugal. Decorre de 1 de Abril a 31 de Maio (15 de Abril a 15 de Junho nos Açores). É necessária experiência na identificação de aves a partir dos seus cantos (difícil). Os dados do CAC são sempre partilhados no Esquema Pan-Europeu de Monitorização de Aves Comuns (PECBMS, na sigla inglesa) e servem para se calcularem todos os anos as tendências populacionais de diversas espécies a nível europeu.

2. NOCTUA Portugal – Monitorização de Aves Nocturnas

Bufo-real (Bubo bubo). Foto: indygnome/Wiki Commons

O NOCTUA Portugal realiza-se em Portugal Continental e na Madeira, uma vez que nos Açores não há aves nocturnas. As contagens decorrem de 1 de Março a 15 de Junho e também entre 1 de Dezembro e 30 de Janeiro, com o objectivo de estimar as tendências populacionais de 10 espécies-alvo (mochos, corujas e noitibós). É necessária experiência na identificação das aves noturnas a partir dos seus cantos, mas pelo facto de serem poucas espécies é fácil aprender.

3. Dias RAM – Contagens de Aves Marinhas

Garajau-comum. Foto: Andy Reago & Chrissy McClarren/Wiki Commons

De âmbito nacional, estas contagens realizam-se em pontos específicos ao longo da costa e têm uma periodicidade mensal. É também necessária experiência na identificação de aves marinhas, mas qualquer pessoa se pode juntar e ir aprendendo aos poucos.

4. Censo de milhafres/mantas

Milhafre (Buteo buteo rotschildii), na ilha Terceira, Açores. Foto: Hobbyfotowiki/Wiki Commons

Realizado na Madeira e Açores, vai decorrer no próximo fim-de-semana de 2 e 3 de Abril e destina-se a realizar contagens das subespécies da águia d’asa redonda (Buteo buteo) que ocorrem nestes dois arquipélagos: a manta (Buteo buteo harterti) na Madeira e o milhafre (Buteo buteo rotschildi) nos Açores. Qualquer um pode participar.

5. Arenaria – Contar aves costeiras

Pilrito-das-praias (Calidris alba). Foto: Jean-Jacques Boujot/Wiki Commons

De âmbito nacional, este censo realiza-se entre 1 de Dezembro e 31 de Janeiro e destina-se a contar as aves presentes na praia, com destaque para espécies limícolas. São necessários observadores com experiência na identificação de algumas aves, como é o caso das diferentes espécies de borrelhos e de pilritos. Tal como as contagens RAM (aves marinhas), “podem ter utilidade para contribuir para projetos localizados, como por exemplo a designação de áreas protegidas de âmbito local.”

6. CANAN – Contagens de Aves no Natal e Ano Novo

Abibe. Foto: Hans Hillewaert/Wiki Commons

Neste censo de nome sugestivo, realizado de 15 de Dezembro a 31 de Janeiro em Portugal Continental, podem participar observadores iniciados. O objectivo é estimar as tendências populacionais das aves invernais nos campos agrícolas portugueses. Tempo necessário? Uma manhã.

7. Estudo da dieta de periquitos

Periquito-de-colar (Psittacula krameri). Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

Hany Alonso explica que “qualquer um pode participar, submetendo observações” sobre o que observa os periquitos-de-colar a comerem. O objectivo desta iniciativa de ciência cidadã é saber mais sobre os alimentos desta ave exótica.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.