Foto: Luís Silva

Fique a conhecer (e tente identificar) estes cinco bichos-de-conta comuns

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O investigador Luís Pascoal da Silva, ligado à Universidade do Porto, descreve-nos espécies de bichos-de-conta que podem ser encontradas de forma relativamente fácil.

Este investigador, que trabalha como investigador no CIBIO-InBIO BIOPOLIS (Universidade do Porto), descreveu agora uma nova espécie de bicho-de-conta para a ciência, num trabalho conjunto com Júlio Cifuentes. Leia as suas descrições destas cinco espécies comuns e envie-nos as suas imagens, se os fotografar.

1. Armadillidium vulgare (família Armadillidiidae)

Foto: Luís Silva

Esta espécie está presente um pouco por todo o país e está também distribuída por todo o globo, estando presente em todos os continentes.  É uma das espécies de isópodes terrestres que tolera menor percentagem de humidade, daí ter conseguido colonizar praticamente todo o planeta. É muitas vezes encontrada em elevadas densidades e está muitas vezes associada a zonas antropogénicas (com presença humana). Pertence a uma das famílias que tem a capacidade de se enrolar como forma de proteção.

Em Portugal, este bicho-de-conta é facilmente identificado pela forma do pleotelson, isto é, o último segmento do corpo. Como é visível na fotografia, a forma é trapezoidal com uma ponta plana e romba, ou aproximadamente da forma de um triângulo com a ponta cortada. Apesar da cor geralmente escura, pode apresentar uma enorme variação de tonalidades.

2. Armadillo officinalis (família Armadillidae)

Foto: Luís Silva

Outra espécie com a capacidade de ficar com uma forma esférica, como método de proteção, o Armadillo officinalis está distribuído ao longo da bacia do Mar Mediterrâneo. Esta é uma espécie comum em Portugal, mas geralmente associada a zonas de solos com predominância de calcário.

São apenas conhecidas duas espécies desta família em território nacional, e ambas do mesmo género, mas a espécie Armadillo hirsutus tem uma distribuição conhecida muito restrita. O Armadillo officinalis, tal como o Armadillidium vulgare, é facilmente identificável pela forma do pleotelson, como é visível na fotografia. A coloração típica é a da indivíduo que surge em baixo na imagem, mas pode variar um pouco, como sucede no exemplar mais em cima.

3. Porcellio scaber (família Porcellionidae)

Foto: Luís Silva

É outra espécie muito comum em Portugal, principalmente para norte do rio Tejo, e está (praticamente) ausente nas zonas mais áridas do país. Conseguiu colonizar todos os continentes e muitas vezes está associado à presença humana, e mesmo em zonas áridas pode ser encontrado perto de casas e jardins, onde sobrevive graças à humidade presente devido à atividade humana.

O género Porcellio é dos géneros mais difíceis de identificar, principalmente na Península Ibérica, onde o grupo é muito diverso. O Porcellio scaber apresenta uma grande variação de cores entre indivíduos, pois pode ter tons claros, avermelhados, ou uma cor escura mais típica, como acontece com o indivíduo na fotografia, e o mesmo indivíduo pode inclusive apresentar padrões com as diversas cores. Além do padrão da coloração ser muito variável, há também uma diversidade considerável nalguns caracteres morfológicos, sendo por vezes praticamente impossível identificar alguns destes animais sem recorrer a caracteres microscópicos.

Contudo, devido à sua abundância da espécie e proximidade das pessoas, aqui ficam algumas dicas para tentar identificar a espécie: Porcellio scaber: a protuberância evidente no meio da cabeça e o respectivo formato, tal como a forma do pleotelson e a rugosidade no corpo, no qual é possível notar um ponteado bastante evidente. 

4. Ctenoscia minima (família Philosciidae)

Foto: Luís Silva

A mais pequena das espécies aqui apresentadas, dificilmente tem mais de cinco milímetros de comprimento. É uma espécie fácil de encontrar no nosso país, apesar de aparentemente não ser comum no Interior Norte. Está presente em locais com elevada humidade, tanto em habitats costeiros, como os estuários, ou zonas florestadas onde é facilmente encontrada entre a manta morta. Apesar da reduzida dimensão, é facilmente reconhecida pelo padrão que apresenta, uma vez que não há espécies semelhantes conhecidas em Portugal.

5. Ligia oceanica (família Ligiidae) 

Foto: Luís Silva

A Ligia oceanica pertence a uma família de isópodes terrestres que voltou a colonizar o meio marinho, ou melhor, o intertidal (zona entre-marés). Esta é uma espécie comum no litoral rochoso do Atlântico, em especial na Europa. O corpo pode atingir três centímetros de comprimento, sendo um dos maiores isópodes presentes em Portugal.

No nosso país, apenas os indivíduos mais jovens e pequenos desta espécie podem ser confundidos com a Ligia italica, espécie que dificilmente alcança 1 centímetro, e que parece estar restrita a águas mais quentes no Sul do país ou nos arquipélagos dos Açores e Madeira.

Nos exemplares de menores dimensões é também possível separar ambas as espécies, verificando por exemplo o número de segmentos das antenas, o que pode ser complicado devido ao reduzido tamanho e ao movimento dos animais. Mas também é normalmente possível identificar ambas as espécies comparando o comprimento das antenas e dos urópodes (que são os apêndices no último segmento) em relação ao corpo: na Ligia italica são praticamente do mesmo tamanho, mas na Ligia oceanica, as antenas e urópodes são consideravelmente mais curtos que o corpo.