Vespa-mamute, uma vespa portuguesa que pode ser confundida com a asiática. Foto: Biodasha/Wiki Commons

Há vespas portuguesas que estão a ser confundidas com a vespa asiática

Albano Soares, especialista em insectos do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, alerta para a crucial importância de saber distinguir a vespa exótica invasora das vespas nativas do nosso país.

Vespa velutina é uma espécie exótica invasora de origem asiática que foi involuntariamente introduzida em Portugal no Alto Minho em 2011. Avançando de norte para sul, esta espécie já foi registada este ano na zona de Lisboa e Vale do Tejo.

Nas últimas semanas, nos meios de comunicação social e nas redes sociais, têm circulado várias notícias que, carecendo de informação adequada, têm lançado confusão e até alarmismo sobre o tema.

A Vespa velutina pertence à ordem Hymenoptera e à família Vespidae, que tem dezenas de espécies em Portugal. São deste grupo as espécies que têm uma estrutura social, formando colónias em que os seus indivíduos desempenham diferentes tarefas. 

Os adultos destas espécies comem principalmente matéria vegetal (néctar e fruta madura, por exemplo), mas as suas larvas são alimentadas com proteína animal. Uma vez que os ninhos coloniais são compostos por centenas ou até milhares de indivíduos, os adultos terão que capturar grandes quantidades de alimento para criar as larvas. É o que se passa nas colónias dos géneros Vespa, Vespula ou Polistes.

Vespa velutina, como qualquer exótica invasora, tem impactos negativos nos nossos ecossistemas pela competição com espécies locais que ocupam os mesmos nichos. O impacto mais visível neste caso são as quebras de produção na apicultura, dado que a abelha do mel (Apis mellifera) é um dos principais recursos usados como alimento para as larvas. 

Algumas notícias relacionam a picada deste inseto com fatalidades ocorridas recentemente. No entanto, é necessário informar que apesar de dolorosa, como a de outras espécies, a sua picada só se torna potencialmente perigosa se a vítima for alérgica e desencadear um choque anafilático com consequências fatais. Como no caso das outras vespas, recomenda-se prudência na aproximação de uma colónia destas espécies. 

A importância crucial de não confundir vespas

Vespa velutina pode ser confundida com outras espécies deste grupo.

A mais fácil de confundir é a Vespa crabro, espécie autóctone que evoluiu neste ecossistema e que desempenha um reconhecido papel como controlador das populações de outros insetos.

Uma busca na internet pode dissipar as dúvidas em separar as duas espécies: a velutina é ligeiramente mais pequena com cabeça negra, face amarela e tórax e grande parte do abdómen negros; a crabro é ligeiramente maior, com cabeça amarelada, tórax mais claro e só metade do abdómen negro.

Vespa crabro. Foto: Ken Thomas.us/Wiki Commons
Vespa velutina. Foto: Siga/WikiCommons

É muito importante saber identificar as duas espécies de modo a eliminar apenas indivíduos e ninhos de Vespa velutina

Destruições equivocadas e enganos estão a ocorrer repetidamente, como assistimos numa reportagem televisiva, em que as autoridades se preparavam para destruir uma colónia de Vespa crabro, pensando que se tratava da espécie asiática. 

A vespa autóctone é benéfica ao funcionamento dos ecossistemas e constitui um importante obstáculo à rápida expansão da vespa exótica. Uma vez que são espécies semelhantes e competidoras pelos mesmos recursos, o enfraquecimento das populações de Vespa crabro abre ainda mais as portas à vespa asiática. 

Como qualquer espécie exótica de carácter invasivo, a vespa asiática deve ser combatida energicamente. 

A informação é sempre o primeiro passo nesta batalha. Saber identificar o problema e alertar as entidades competentes é o melhor caminho. 

Destruir colónias de espécies autóctones, capturar e eliminar tudo o que possa parecer ligeiramente uma vespa não faz parte deste combate. 

Atuar sem informação, precipitadamente, é também nefasto para o ambiente e pode mesmo, como já foi demonstrado, prejudicar outras comunidades de insetos úteis aos ecossistemas que por esta função são importantes aliados nesta causa.


Saiba mais.

Recorde as vespas que a Wilder já identificou no “Que espécie é esta?”: aqui a vespa-crabro, aqui a vespa-mamute (também autóctone de Portugal e que, pelo seu tamanho, pode ser confundida) e aqui a vespa asiática.