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Jardim protege há 11 anos espécies botânicas ameaçadas do Algarve

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O Jardim da Flora Algarvia, em Cacela Velha, cresce há 11 anos das mãos de Teresa Patrício e de voluntários. Ali estão reunidas espécies representativas da região, em especial aquelas que já foram comuns mas que estão quase a desaparecer do Algarve.

A Primavera está mesmo a chegar e o Jardim Representativo da Flora do Algarve, em Cacela Velha, revela o seu melhor.

Foto: Teresa Patrício

As orquídeas, as campaínhas amarelas, o rosmaninho e a madressilva competem em beleza com as flores da amendoeira, do medronheiro, do folhado, do tojo, das pascoinhas, das nosilhas ou dos jacintos-das-searas.

A riqueza deste Jardim, um refúgio de biodiversidade, atrai visitantes muito especiais, desde inúmeras espécies de insectos, aranhas, borboletas e pássaros a camaleões, lagartixas e cobras.

Teresa Patrício, artista plástica de 69 anos, é a responsável por este Jardim. São 900 metros quadrados de Jardim e um pomar tradicional de sequeiro que nasceram em Cacela Velha, no concelho de Vila Real de Santo António, num terreno classificado como Zona Especial de Protecção ao núcleo histórico, com 2,3 hectares.

“O jardim tem como objectivo reunir o maior número de espécies da flora algarvia, dando especial atenção às que se encontram extintas ou em vias de extinção nesta área do litoral de Cacela”, explicou à Wilder Teresa Patrício.

O espaço onde hoje crescem tantas espécies botânicas algarvias, algumas únicas, já foi muito diferente. Este terreno ancestralmente agrícola passou “a terreiro sem interesse onde proliferava um acampamento de caravanas, lixos da construção civil e uma lixeira municipal”, recorda Teresa Patrício.

Em 1999 a autarquia comprou o terreno e em 2002 o projecto do Jardim arrancou.

“O objectivo do projecto foi reverter esta situação lamentável e dar de novo um cunho agrícola a este espaço classificado, com 108 espécies plantadas de propósito. Tendo sido terreno agrícola de cereais, não existia nenhuma vegetação.”

Hoje, este é um jardim público e “sem fronteiras”, mantido por Teresa Patrício e “alguns voluntários que esporadicamente dão algum trabalho valioso e muito bem vindo”.

Teresa Patrício. Foto: D.R.

Este é um projecto de dedicação e boas-vontades. “Não há apoio financeiro e todo o trabalho é voluntário. Esta é a marca do projecto.” O único apoio financeiro que Teresa Patrício recebeu foram os 3.000 euros que a Câmara Municipal dispensou, “há muitos anos atrás”. Além disso, a autarquia continua a disponibilizar a água graciosamente.

Entre os visitantes deste espaço estão as escolas locais, numa parceria com o CIIP – Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela.

Por vezes, as plantas autóctones algarvias que crescem no jardim não são fáceis de encontrar. Para algumas há a “dificuldade de aquisição nos circuitos comerciais”. Por isso, Teresa Patrício faz um “trabalho de identificação e posterior recolha de sementes ao longo das quatro estações do ano” no litoral, Barrocal e Serra. Outras plantas do jardim foram transplantadas “por se encontrarem em perigo extremo, em lixeiras”, e algumas foram oferecidas pelos Serviços Florestais de Monte Gordo.

Além da colecção de espécies de flores, arbustos e árvores que cresce a cada dia, este espaço tem um bebedouro para aves e outros animais. “É uma mais valia quando chega o calor ao Algarve, ter água à disposição para a fauna.”

Tem também um observatório para os amantes de aves e de fotografia e um hotel para insectos.

Segundo Teresa Patrício, o hotel para insectos deve ser instalado num local com flores. “Serve para abrigo e reprodução dos insectos que as polinizam.” Este hotel é feito com materiais naturais. “São essencialmente madeira, madeira em decomposição, cartão, galhos, pinhas e demais materiais que se encontram na natureza.”

A responsável aconselha “que a construção do hotel se realize antes de Outubro, para que os insectos tenham tempo de o encontrar, antes das primeiras chuvas”. 


Saiba mais.

A 1 de Março, Teresa Patrício encontrou neste jardim uma das espécies alvo do projeto “Invertebrados da Lista Vermelha Procuram-se!”. Recorde aqui o percevejo-de-duas-luas (Solenosthedium bilunatum).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.