Psittacula krameri. Foto: Louis Dewame/WikiCommons

Novo projecto pede a sua ajuda para procurar aves exóticas em Portugal

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Descubra o que é o IBISurvey, para que serve, que espécies procurar e como participar. Há 11 espécies de aves exóticas bem instaladas em Portugal para ajudar a registar neste novo projecto do Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora.

O IBISurvey: Questionário sobre Interacções com Aves Introduzidas quer perceber “quais as espécies de aves exóticas que podem causar impactos mais severos no ambiente e na agricultura, tendo consequentemente um efeito negativo na economia e na sociedade em geral”, explicou à Wilder Pedro Filipe Pereira, investigador do Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora.

É um projecto do laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora, financiado pelo Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento. Está a decorrer em toda a Europa.

Pode participar neste projecto, que começou em Abril de 2021, durante os próximos dois anos.

Para que serve o IBISurvey?

O projecto vai responder à “necessidade urgente de compreender a tipologia, frequência e severidade dos impactos das espécies de aves exóticas observadas em liberdade na Europa”.

O cisne-mudo (Cygnus olor) é uma espécie introduzida em Portugal com origem na Europa Central e do Norte. Foto: Pedro Filipe Pereira

Há um número cada vez maior de espécies de aves exóticas estabelecidas ou em vias de estabelecimento cuja informação sobre a dimensão populacional é escassa e os impactos são desconhecidos.

“Com o auxílio dos cidadãos, pretendemos identificar a ocorrência de interacções entre indivíduos de aves exóticas e o ambiente, como por exemplo observações de competição por cavidades de nidificação entre espécies exóticas e nativas, destruição de culturas agrícolas ou a dispersão de sementes de plantas exóticas por aves exóticas”, explicou Pedro Filipe Pereira.

Os potenciais impactos das aves exóticas na biodiversidade são diversos e incluem “ameaças às espécies nativas, por exemplo hibridação, competição por locais de nidificação ou predação, ou o favorecimento de outras espécies exóticas, como a dispersão de sementes de plantas exóticas”.

Quais as espécies de aves exóticas que mais preocupam?

O número de espécies-alvo do projecto está em aberto. “Definimos 76 espécies que têm populações estabelecidas na Europa ou que, apesar de não terem populações estabelecidas, são frequentemente observadas em liberdade porque escapam ao cativeiro, como por exemplo a caturra (Nymphicus hollandicus).”

Periquito-rabijunco (Psittacula krameri), ave exótica na Europa originária da África e Ásia, a comer laranjas num jardim. Foto: Rui Lourenço

Acrescem ainda às 76 espécies aquelas que, apesar de serem nativas na Europa, foram introduzidas em regiões onde não ocorrem naturalmente, como é por exemplo o caso do cisne-mudo (Cygnus olor) em Portugal. 

Contudo, qualquer espécie de ave exótica que seja observada em liberdade na natureza pode interessar. Isto porque “o estabelecimento de espécies exóticas na natureza é um processo dinâmico” e uma espécie que não se encontra estabelecida hoje pode encontrar condições para tal no futuro.

Estas são as espécies que mais preocupam estes investigadores e para as quais começam a surgir os primeiros indícios de impactos:

Periquito-rabijunco (Psittacula krameri): destruição de culturas agrícolas;

Íbis-sagrada (Threskiornis aethiopicus): predação de espécies nativas;

Rouxinol do Japão (Leiothrix lutea) e tuta-de-faces-vermelhas (Pycnonotus jocosus): estas têm impactos negativos noutras regiões onde foram introduzidas (competição com nativas ou dispersão de plantas exóticas) mas ainda se sabe pouco sobre a sua ocorrência e impactos na Europa.

E quais as espécies de aves que podemos procurar em Portugal para este projecto?

Segundo o investigador, contam para o projecto as “espécies estabelecidas, ou seja aquelas espécies exóticas que apresentam populações reprodutoras autossustentáveis sem dependência do apoio humano durante um período mínimo de duas décadas”. Baseados no novo Atlas das Espécies nidificantes na Europa (Keller et al. 2020), “identificámos um mínimo de 11 espécies estabelecidas em Portugal e 39 espécies na Europa. Esta é uma contagem conservadora e à qual se poderão brevemente somar mais espécies, que apesar de recentemente introduzidas, estão em aumento populacional e em expansão, como a viuvinha-bico-de-lacre (Vidua macroura) em território nacional”.

O rouxinol do Japão (Leiothrix lutea) é uma espécie nativa da Ásia cujos impactos no ambiente são ainda pouco conhecidos na Europa. Foto: Pedro Filipe Pereira

Estas são as 11 espécies estabelecidas em Portugal:

Ganso do Egipto (Alopochen aegyptiaca)

Periquito-rabijunco (Psittacula krameri)

Periquitão-de-cabeça-azul (Thectocercus acuticaudatus)

Caturrita (Myiopsitta monachus)  

Mainá-de-crista (Acridotheres cristatellus

Rouxinol do Japão (Leiothrix lutea)  

Bengali-vermelho (Amandava amandava)

Bico-de-lacre (Estrilda astrild)

Bico-de-chumbo-malhado (Lonchura punctulata)

Tecelão-de-cabeça-preta (Ploceus melanocephalus)

Arcebispo (Euplectes afer)  

O que fazer para participar?

Qualquer cidadão europeu com acesso à internet pode participar. O projecto tem um site em seis idiomas europeus onde os cidadãos podem obter informação sobre a identificação, ecologia e distribuição actual na Europa das 76 espécies selecionadas, bem como familiarizar-se com os seus comportamentos (de reprodução, de alimentação ou sociais) que podem indiciar um impacto no ambiente.

Após identificar a espécie de ave exótica e o seu comportamento, o cidadão pode preencher o registo da observação no questionário que se encontra no site.

Os resultados serão divulgados publicamente em relatórios anuais e em artigos científicos. 


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.