O que fazer no Verão: procurar a planta Centaurea exarata

Aproveite os passeios de Verão para ajudar a Sociedade Portuguesa de Botânica a descobrir novas localizações da flor Centaurea exarata. A Wilder conta-lhe como participar neste desafio botânico que está a acontecer em Portugal e Espanha até 30 de Setembro.

Como é a Centaurea exarata?

Esta é uma planta que dá flores cor de rosa, que podemos ver nos meses de Junho e Julho. Segundo Sergio Chozas, responsável por este desafio botânico e especialista da Sociedade Portuguesa de Botânica, esta planta tem “uma haste ramificada, cada ramo terminando num capítulo de flores cor de rosa”; tem uma roseta basal de folhas inteiras.

Foto: Miguel Porto/Flora-On.pt

É uma espécie herbácea “frequentemente alta” e “pode crescer até mais de 100 centímetros”. “Toda a planta é coberta por uma densíssima cobertura de pêlos brancos que lhe conferem um aspeto branco acinzentado, e um toque lanoso e espesso.” Este botânico diz-se “apaixonado” por esta planta. “Tive a sorte de ver a espécie em Doñana (Andaluzia) e na Companhia das Lezírias recentemente e fiquei ‘apaixonado’ por ela.” 


O que é preciso fazer?

Para colaborar neste desafio botânico basta instalar a aplicação iNaturalist nos telemóveis, entrar no projeto Centaurea exarata e submeter o seu registo. Tem até 30 de Setembro para participar. Isto coincide “com a época de floração da espécie” – o que, segundo o perito, facilita a sua localização e identificação – e dá “uma margem para as pessoas terem tempo de submeter os registos na plataforma”.

Foto: Miguel Porto/Flora-On.pt

Como se identifica esta planta e que características procurar?

Quando estiver perto de uma planta que suspeite ser uma Centaurea exarata procure observar as principais características da espécie: as flores, as folhas, os frutos e os detalhes do cálice.


Quais as espécies que mais facilmente podem ser confundidas com esta planta?

Tenha atenção a algumas espécies que podem enganar. “Existem algumas espécies denominadas vulgarmente ‘cardos’ que podem parecer-se com ela, mas o pormenor das brácteas (ou seja, as folhas modificada que nascem com a flor e a cobrem antes de desabrochar) é inconfundível.”


Quais os melhores locais e concelhos para a procurar?

“A espécie ocorre em areias com alguma humidade, normalmente perto de charcos temporários, mas também em linhas de água”, diz Sergio Chozas. “Em Portugal ocorre pontualmente na Marinha Grande, Mil Brejos Batão, Companhia das Lezírias e Alvalade do Sado. No entanto há registos históricos da espécie nas proximidades de Vila Nova de Mil Fontes e na Península de Setúbal: Quinta do Conde, Brejos de Azeitão e Fernão Ferro, pelo que há muitas zonas onde procurar.”

Foto: Miguel Porto/Flora-On.pt

É uma espécie ibérica. “Ocorre em Huelva e Cádis, pelo que partilhamos o desafio com os nossos colegas espanhóis e esperamos que eles também o divulguem. De facto, temos já registos para Doñana, onde um grupo de investigadores, entre os quais me incluo, estamos a trabalhar.”


Qual o objectivo deste desafio botânico?

“O nosso objetivo é ampliar o conhecimento sobre a espécie e encontrar novos núcleos”, explicou o investigador, referindo-se a este projecto da Sociedade Portuguesa de Botânica, desenvolvido com a colaboração da Biodiversity4all. A Centaurea exarata só existe em Portugal e Espanha, mais concretamente no Sudoeste da Península Ibérica. Em Portugal, a sua distribuição é pontual. “Na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental está atualmente classificada como Vulnerável porque existem poucos núcleos da espécie e estes são pequenos e concentrados, muito localizados, tornado a espécie suscetível de sofrer uma redução acentuada face a ameaças imprevisíveis como a implantação de projetos florestais ou agrícolas”, explicou o botânico. Além disso, “existem registos históricos que vale a pena explorar”. Este desafio pretende também “sensibilizar para a existência destas espécies incrivelmente maravilhosas que correm risco de desaparecer sem, muitas vezes, termos dado pela sua existência”.

Foto: Miguel Porto/Flora-On.pt

O que vão fazer com a informação recolhida pelos cidadãos?

As plantas observadas pelas pessoas, e submetidas na plataforma do projecto, vão ajudar os investigadores a “completar a área de ocorrência da espécie” em Portugal e em Espanha.


Saiba mais.

Descubra mais pormenores sobre a Centaurea exarata no portal da Flora-On.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.