O que procurar no Inverno: o sobreiro

No final de 2011, o sobreiro (Quercus suber) foi reconhecido, por unanimidade da Assembleia da República a Árvore Nacional de Portugal.

Há muitos países que têm uma Árvore Nacional. Essa escolha é feita pela importância ambiental, económica e social que essa espécie representa para o país. Em Portugal, no final de 2011, o sobreiro (Quercus suber) foi reconhecido, por unanimidade da Assembleia da República a Árvore Nacional de Portugal. Esta classificação visa “contribuir para tornar mais visíveis alguns dos problemas associados à preservação desta espécie (…)”.

Foto: Derguen/Pixabay

Sobreiro

O sobreiro é uma espécie nativa, perene da família das Fagaceae, a que também pertencem o castanheiro e os carvalhos. É uma árvore de médio porte, que pode atingir 20 m de altura, de copa ampla, irregular e densa. O tronco é revestido por uma casca acinzentada, espessa e fendida, conhecida como cortiça.

As folhas são persistentes, simples, coriáceas e ovadas. A página superior das folhas é verde-escura, lustrosa e desprovida de pelos e a página inferior é esbranquiçada pela densa presença de pelos. A margem é inteira, ou por vezes ligeiramente dentada e espinhosa.

As flores verde-amareladas e pequenas surgem entre fevereiro e maio e por vezes no outono, em amentilhos femininos e masculinos. Os amentilhos masculinos são finos e muito peludos, e encontram-se em grupos de 5 a 6, na extremidade dos ramos. As flores femininas são pouco visíveis, surgem geralmente isoladas na parte média dos ramos. 

Foto: Falco/Pixabay

O fruto é uma glande, usualmente designada como bolota. O fruto é oval, mais largo e peludo no ápice, de cor verde, que tende a evoluir para castanho-avermelhado quando atinge a maturação, no outono. É composto por uma cúpula em forma de dedal coberta de escamas imbricadas, ou seja, de ponta curva. Os primeiros frutos surgem na árvore a partir dos 15 a 20 anos de idade.

Árvore de plena luz

O sobreiro é nativo da Região Mediterrânica ocidental, ocorrendo de forma espontânea em Portugal, Espanha, França, Itália, Argélia, Tunísia e Marrocos. Em Portugal é frequente um pouco por todo o país, sendo mais predominante na Terra-Quente de Trás-os-Montes, na parte oeste do Alentejo, no Algarve e bacia do Tejo.

É uma árvore de luz plena, prefere solos soltos, leves e permeáveis, clima ameno e níveis médios de humidade atmosférica. Adapta-se, no entanto, a uma grande variedade de condições ecológicas, tolerando longos períodos de seca estival e de pluviosidade baixa. Suporta mal as geadas e os solos calcários.

O sobreiro pode encontra-se em povoamentos onde é dominante – montados de sobro ou sobreirais ou em bosques e matas, associado a outras espécies, como a azinheira e o carvalho cerquinho.

A madeira do sobreiro é dura e pesada sendo difícil de trabalhar, sendo utilizado para o fabrico de pequenas peças de mobiliário rústico, soalhos e ferramentas agrárias rudimentares. Também possui um elevado poder calorífico, sendo muito utilizada para lenha. Os frutos e as folhas servem de alimento para os animais.

Foto: Jean-Pol Grandmont/WikiCommons

Espécie protegida e maior produtor de cortiça

Devido à espessa casca que possui, o sobreiro é bastante resistente ao fogo, sendo um excelente isolador térmico e retardante da combustão. Estas singularidades permitem que recupere muito mais depressa do que outras espécies e tornam-no na única espécie da bacia do Mediterrâneo capaz de regenerar a partir da copa, após a passagem de um incêndio, mesmo que severo. É um precioso aliado contra os incêndios e um bom protetor dos solos.

É uma espécie explorada fundamentalmente pelo valor comercial da cortiça. A cortiça é um bom isolador térmico e acústico e é muito usada no fabrico de rolhas, revestimentos, calçado, palmilhas, cortiços para abelhas, vestuário, tapetes, etc. Os desperdícios são utilizados no fabrico de aglomerados, na indústria de linóleo e para serradura. 

O sobreiro é uma espécie protegida em Portugal. A sua proteção justifica-se largamente pela sua importância ambiental económica. O Decreto-Lei n.º  169/2001, de 25 de Maio, alterado pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de Junho, estabelece as medidas de proteção desta espécie e da azinheira. Para proceder ao corte ou à poda de sobreiros e azinheiras é necessário uma autorização prévia pelo ICNF – Instituto da conservação da Natureza e das Florestas. A extração de cortiça também se rege por um conjunto de normas, estabelecidas na mesma regulamentação.

Foto: Krzysztof Golik/WikiCommons

A importância do sobreiro em Portugal é reconhecida desde o século XIII, altura em que surgiram as primeiras leis de proteção da espécie.

Segundo o último inventário Florestal Nacional, um terço da floresta nacional corresponde a montados de sobro (Quercus suber) e azinho (Quercus ilex), sendo a formação florestal com maior expressão no território. 

Um árvore histórica

A casca e a beleza do sobreiro dão origem à sua designação científica, uma vez que o nome genérico Quercus é o nome clássico, em Latim, dado ao Carvalho, uma planta sagrada para Júpiter e deriva do celta “Kaer-” e “-quer” que significa “Bela árvore” ou “A árvore por excelência”. O termo suber é o nome antigo, em Latim, do sobreiro e também é o nome dado à casca – cortiça.

É uma espécie com grande longevidade, podendo viver cerca de 250 a 300 anos, mas se descortiçado, raramente vai além dos 150 a 200 anos. 

O sobreiro mais antigo do mundo é o Assobiador, o emblemático sobreiro de Águas de Moura, na Marateca, concelho de Palmela, plantado em 1783. Este espécime tem mais de 14 metros de altura e 4,15 metros de perímetro de tronco. O Assobiador foi eleito, em 2018, no concurso “Tree of the Year”, a árvore mais bela de Portugal e da Europa. O Assobiador é também o sobreiro mais produtivo existente no mundo. Já foi descortiçado mais de vinte vezes, desde 1820. Em 1991, foram extraídos 1200 kg de cortiça, o que resultou em mais de cem mil rolhas, mais do que a produção total da maioria dos sobreiros em toda a sua vida.

O sobreiro é, como a bandeira ou o hino, um símbolo de Portugal. De cada vez que se cruzarem com um ou com os seus derivados, lembrem-se que não estão apenas perante uma árvore protegida, mas sim, um símbolo nacional.


Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.


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