Foto: Nanosanchez / Wiki Commmons
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Pode o camaleão chegar a novas zonas de Portugal?

Daniel Veríssimo, um economista fascinado pela natureza, fala-nos deste réptil que gosta de se camuflar e que em Portugal está hoje limitado ao sul do país.

O camaleão ou camaleão-do-mediterrâneo (Chamaeleo chamaeleon) é um pequeno réptil que pode medir até 30 centímetros e pesa entre 10 a 120 gramas, sendo a única espécie de camaleão presente na Europa, além do camaleão-africano, que tem uma população introduzida na Grécia. O camaleão-do-mediterrâneo ocorre ao longo do Norte de África e em zonas costeiras do Sul da Europa e Médio Oriente e ao longo das zonas costeiras ocidentais da Península Arábica.

Em Portugal, este réptil pode ser encontrado na zona do Algarve, em zonas costeiras e em algumas regiões interiores. Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, terá sido introduzido no sul do país há mais de 500 anos, antes de 1500.

É um caçador de insetos perfeito, tem uma língua longa, flexível e explosiva, os olhos são salientes e podem mover-se independentemente, podendo mudar de cor para se camuflarem na paisagem. Podem viver cerca de 10 anos, as fêmeas põem ovos no Outono – entre 5 a 40, que eclodem no Verão do ano seguinte – e no Inverno entram em modo letárgico (período de menos atividade), de Dezembro a Março.

Uma espécie flexível na escolha de habitat, apesar de na Europa ser mais comum em zonas costeiras como pinhais ou dunas. Noutras partes da sua distribuição, ocorre desde zonas costeiras até paisagens montanhosas, de partes de floresta fechada até áreas com matos dispersos. Em algumas zonas de Espanha, se o habitat for bom, podem ser encontrados 10 a 25 animais por hectare; se for excelente, até 50 animais por hectare.

Camaleão fotografado no Algarve. Foto: Steven Fruitsmaak/Wiki Commons

Existem algumas ameaças ao camaleão, como a destruição de habitat, o uso de pesticidas, os incêndios cada vez mais frequentes, a drenagem de zonas húmidas e ainda a convivência com animais domésticos ou assilvestrados como cães e gatos, que podem caçá-los e destruir ninhos.

Para o bem ou para o mal, o ser humano molda os ecossistemas a uma escala planetária, podemos usar essa capacidade para o bem e ajudar espécies a adaptarem-se e a prosperar. Com o aumento das temperaturas na Península Ibérica, muitas distribuições de espécies vão mudar, algumas podem ficar mais raras, outras abundantes ou até mesmo desaparecer ou aparecer

À semelhança de muitas espécies de plantas – como sobreiros, azinheiras, medronheiros e carvalhos – e de alguns animais – por exemplo o veado, a gineta e o coelho – o camaleão existe dos dois lados do Estreito de Gibraltar, tanto no Norte de África como na Península Ibérica. É uma espécie que com as alterações climáticas verá a sua área de distribuição potencial aumentar, principalmente para o Centro e Norte da Península.

Hoje, já existe habitat para o camaleão em algumas zonas de Portugal, a sul do Tejo, ao longo da Costa Vicentina, nos pinhais de Melides, Comporta e Meco, na Serra da Arrábida, ao longo dos estuários do Tejo e do Sado, no Alentejo e até em partes da Beira Baixa ou do Douro Internacional. No futuro, à medida que o clima muda e fica mais quente, é provável que novas áreas tenham as condições para o camaleão viver e prosperar.

Corredores ecológicos

A expansão natural é pouco provável devido à fragmentação de habitat e ao estado ameaçado que algumas populações enfrentam. Por isso, é necessário encontrar novas zonas com bom habitat, criar novas populações e criar corredores ecológicos, por exemplo com cordas ou cabos para ligar duas áreas por cima de uma estrada, para os cameleões se deslocarem por cima do asfalto e não terem a necessidade de baixar ao chão onde podem ser atropelados.

Fazer uma visita de campo, numa manhã ainda fresca de Primavera, junto a uma zona húmida criada por castores. Uma zona verde, a fervilhar de insetos, de todos os tamanhos e cores, libelinhas, mosquitos e cigarras, e encontrar um camaleão camuflado num ramo de sabugueiro, com flores brancas de aroma doce, à espera da primeira refeição do dia. Ou dar um passeio por uma zona de sobreiros e azinheiras e entre o canto de abelharucos ser surpreendido por um camaleão num ramo à espera de gafanhotos.

Optamos por ter uma atitude passiva perante o declínio da vida selvagem ou proativa? Apenas responder a ameaças ou aproveitar novas oportunidades? Apontar problemas ou apontar soluções?

O camaleão pode chegar a novas zonas de Portugal.