Libelinha lestes-comum (Chalcolestes viridis. Foto: Quartl/WikiCommons

Porque é que as libélulas e libelinhas têm olhos tão grandes?

Nenhum passeio de verão fica completo sem um vislumbre de libélulas ou libelinhas coloridas, nos seus voos velozes e algo erráticos. São animais admiráveis por muitas razões. Uma delas são os seus olhos fascinantes, enormes em relação ao resto do corpo. 

“Os olhos das libélulas e libelinhas têm nervos ópticos muito desenvolvidos e em muito maior quantidade do que os nossos, o que lhes dá uma visão excelente”, explica Albano Soares, naturalista do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e da Rede de Estações da Biodiversidade.  

As 64 espécies de libélulas e libelinhas que ocorrem em Portugal “são animais visuais, baseiam a sua vida na visão”, conta Albano Soares, que trabalha com estas espécies há 20 anos. 

Ao contrário do que acontece com as borboletas, as libélulas e libelinhas não procuram mensagens químicas, como feromonas, emitidas por outros insetos e captadas pelas antenas, uma vez que as suas antenas são muito curtas. 

Antes, dependem da visão e da capacidade do seu cérebro para processar pistas visuais para caçar, para se orientarem e para procurar parceiros.  

“São predadores que detetam movimentos facilmente”, nomeadamente de pequenos insetos como mosquitos e moscas, explica Albano Soares. Os seus olhos enormes dão-lhes a acuidade óptica necessária para capturar as presas, mesmo em voo, no caso das libélulas. Geralmente, estas têm olhos mais bem desenvolvidos do que as libelinhas, animais que caçam insetos pousados. 

“Por exemplo, a libélula imperador-azul (Anax imperator) tem olhos especialmente grandes”, lembra o especialista. Esta libélula, com olhos verde-azulados, é uma das maiores da Europa e pode encontrar-se de Norte a Sul de Portugal.

Libélula imperador-azul (Anax imperator). Foto: Andreas Eichler/Wiki Commons

Além da caça, também a vida sexual destes animais se baseia na visão, mais concretamente nas cores.  

Os machos têm cores diferentes das fêmeas e é pela cor que os primeiros identificam as suas potenciais parceiras.  

Mas há algumas espécies de libelinhas que adoptaram uma estratégia interessante. “Algumas fêmeas dessas espécies têm cores masculinas, uma forma de imitar os machos e assim evitar serem assediadas”, desvenda Albano Soares. Esta estratégia permite-lhes viverem mais tempo, uma vez que sofrem menos desgaste e evitam uma maior exposição aos predadores durante a reprodução. 


Ao longo do ano, a cada mês, a Wilder desvenda-lhe alguns dos fenómenos que estão a acontecer no mundo natural, incluindo no Jardim Gulbenkian.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.