Líquene crustáceo - Pó de ouro (Chrysothrix candelaris) Foto: César Garcia

Saiba identificar 6 espécies de musgos e líquenes das árvores e telhados

Saia à rua e esteja atento ao solo, rochas, árvores, muros, telhados e monumentos. Procure estas quatro espécies de líquenes e duas espécies de musgos. Se as encontrar é bom sinal. O ar que está a respirar é de boa qualidade. Palmira Carvalho e César Garcia, do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, ajudam-o a procurar.

 

Antes de partir à descoberta, é melhor levar consigo uma lupa de bolso com um poder de ampliação de 10 vezes, já que os líquenes e os musgos são, geralmente, bastante pequenos.

 

Líquene pó-de-ouro (Chrysothrix candelaris):

Líquene crustáceo - Pó de ouro (Chrysothrix candelaris) Foto: César Garcia
Líquene crustáceo – Pó de ouro (Chrysothrix candelaris). Foto: César Garcia

 

Procure esta espécie pela sua cor amarelada que faz lembrar dourado. Este é um líquene que vive no tronco das árvores e que faz parte do grupo dos líquenes que se assemelham a crostas (líquenes crustáceos).

“Os líquenes crustáceos, por serem os mais tolerantes à poluição, são aqueles que mais frequentemente encontramos nas cidades”, diz Palmira Carvalho.

 

Líquene-dos-telhados (Xanthoria parietina):

Líquene-dos-telhados(Xanthoria parietina) Foto: Margarida Marques
Líquene-dos-telhados (Xanthoria parietina). Foto: Margarida Marques

 

Este é outro líquene crustáceo. É uma espécie que precisa de bastante luz e que pode observar durante todo o ano. É a espécie de líquene que costuma dar cor às telhas e aos muros.

 

Líquene Parmelia verde (Flavoparmelia caperata):

Líquene foliáceo - Parmelia verde (Flavoparmelia caperata) Foto: Margarida Marques
Líquene foliáceo – Parmelia verde (Flavoparmelia caperata). Foto: Margarida Marques

 

Este líquene pertence a outro grupo, o dos foleáceos que, como o nome indica, assemelham-se a folhas. Procure-o nos troncos das árvores. Na região de Lisboa são bons locais Sintra e o Parque Florestal de Monsanto.

 

Líquenes evernia (Evernia prunasti): 

Líquene fruticuloso -Evernia (Evernia Prunasti) Foto: Margarida Marques
Líquene fruticuloso – Usnea (Usnea sp.) Foto: Margarida Marques

 

Por fim, este pertence ao terceiro grupo de líquenes, os fruticulosos, que fazem lembrar minúsculos arbustos. Mais uma vez, Sintra e Monsanto são bons locais para os encontrar.

 

Musgo trançado-comum (Hypnum cupressiforme):

Musgo-trançado-comum (Hypnum cupressiforme) Foto: MUHNAC
Musgo-trançado-comum (Hypnum cupressiforme). Foto: MUHNAC

 

Esta será a espécie mais conhecida, diz César Garcia, especialista nestas florestas em miniatura que, em rigor científico, são apelidadas de briófitas. O musgo-trançado-comum, moderadamente sensível à poluição atmosférica, é a espécie que costuma ser utilizadas nos presépios e por vários fungos e animais, como fonte de alimento ou para a construção dos seus abrigos.

 

Musgo capuz-vulgar (Orthotrichum tenellum): 

Musgo-capuz-vulgar (Orthotrichum tenellum) Foto: César Garcia
Musgo-capuz-vulgar (Orthotrichum tenellum). Foto: César Garcia

No entanto, uma das espécies mais frequentes em Portugal é o musgo-capuz-vulgar, que cresce sobre as árvores e tem uma boa tolerância à poluição atmosférica.

“Conhecendo-se as espécies mais sensíveis e as mais tolerantes à poluição, pode-se estimar a qualidade do ar que respiramos”, explica César Garcia. Por exemplo, zonas onde surjam espécies de líquenes e musgos bastante sensíveis serão, certamente, áreas em que a poluição atmosférica é quase nula.

 

Dois guias de campo a caminho

 

Brevemente, serão publicados dois guias de campo, um para Lisboa e outro para Sintra, avança Palmira Carvalho à Wilder. O da capital será disponibilizado inicialmente online e, numa segunda fase, colocado à venda em locais ainda a definir. O segundo guia será vendido pelos Parques de Sintra.

Ambos os guias terão chaves dicotómicas das espécies mais frequentes e um discurso científico acessível, adianta a responsável. Ainda assim têm objectivos diferentes.

O guia para Lisboa quer convidar as pessoas a refazer o estudo dos líquenes e musgos em pequenos locais. “É como se fosse o nosso livro de campo, mas mais simplificado. Pode ser utilizado desde o 1º ciclo à universidade e por qualquer cidadão interessado em identificar as diferentes espécies”, explica. Por outro lado, o guia de campo de Sintra já é mais completo e engloba mais espécies.

A ideia dos investigadores do MUHNAC é que qualquer cidadão consiga distinguir um líquene de um musgo e seja capaz de reconhecer algumas espécies. No entanto, lembram que o mundo destes organismos é, sobretudo, microscópico. “Nos casos das espécies que não conseguimos identificar a olho nu, temos de recolher pequenas amostras para as observar, mais detalhadamente, com a lupa de relojoeiro ou ao microscópio. No microscópio, têm de ser bastante ampliadas (algumas 1.000 vezes) para que as conseguimos identificar a partir da medição dos esporos, pontas das folhas, células, etc.”, esclarece César Garcia.

 

[divider type=”thick”]Quatro coisas a saber sobre líquenes e musgos:

  • Os líquenes estão por toda a parte, dos pólos aos trópicos. Estes organismos têm uma grande longevidade e são capazes de se instalar em ambientes extremos, podendo desenvolver-se sobre as mais variadas superfícies naturais (solos, rochas, árvores ou até no corpo de alguns insetos) e artificiais (muros, telhados, monumentos).
  • Contrariamente à maioria dos seres vivos, é complicado dizer quando um líquene está vivo ou morto. Algumas gotas de água podem “ressuscitá-lo” desde de ter passado vários anos seco. Palmira Carvalho explica que, em condições inóspitas, os líquenes entram em estado de dormência, inibindo as funções vitais para proteger o seu DNA e estruturas.
  • Os musgos não produzem nem sementes nem flores e a sua longevidade é menor do que os líquenes, por estarem muito dependentes do grau de humidade do meio, enfatiza César Garcia. Desprovidos de raízes, os musgos são peritos em arranjar maneiras eficazes de reduzir ao máximo as perdas de água.
  • Musgos e líquenes são organismos que coexistem quase sempre, vivendo em comunidades. No entanto, a sua coexistência nem sempre é pacífica. “Pode haver competição entre si, mas também entre as espécies que os elegem como lar, cujo ciclo de vida deles depende”, diz Palmira Carvalho.

 

Este texto foi editado por Helena Geraldes