Grilo-bimaculado © Paul Venter -WikiCommons

Será que os grilos cantam mais no verão? E todos os grilos cantam?

O coro dos grilos é uma das mais queridas bandas-sonoras do verão. Mas será que estes animais só cantam nesta estação do ano? E haverá grilos “silenciosos”? Eva Monteiro, investigadora da Rede de Estações da Biodiversidade e do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, ajuda-o a tornar-se um perito nestes simpáticos insetos.

Em Portugal, vivem cerca de 30 espécies de grilos. São animais com as patas traseiras adaptadas ao salto, compridas antenas com aspeto de fio (chamadas filiformes) e corpo achatado de cor preta ou parda. Pertencem à Superfamília Grylloidea.

O som que ouvimos, especialmente à noite, é feito quando os grilos friccionam as suas asas anteriores. Só os grilos adultos estridulam (o nome técnico quando os insetos “cantam”). E só os machos. Fazem-no durante a corte para atrair a fêmea para a cópula.

Este “canto” é muito característico desta época do ano. Os grilos-bimaculados (Gryllus bimaculatus) e os grilos-italianos são alguns dos cantores que enchem as noites de verão. “Com duas espécies em Portugal, ambas excelentes cantoras (Oecanthus pellucens e O. dulcisonans), os grilos italianos parecem, à primeira vista, pequenas baratas cor-de-palha, mas quando vemos os machos a cantar ficamos impressionados! Como é que um bicho com pouco mais de um centímetro de comprimento consegue fazer tanto barulho?”, comenta, impressionada, Eva Monteiro.

Grilo do campo © Hamon-jp –WikiCommons

Outros insetos que também cantam fora da época do verão são os ralos (Gryllotalpa sp.). Como estes são insetos escavadores e é mais fácil fazer galerias em terra molhada, é comum ouvirmos o seu som grave e contínuo depois das primeiras chuvadas da primavera e do outono.

“Também temos grilos que cantam o ano todo como o grilo-do-bosque (Nemobius sylvestris), o grilo-dos-caniços (Natula averni), ou o grilo-de-Bordéus (Eumodicogryllus bordigalensis)”, acrescenta Eva Monteiro. “Este último, além de cantar em todas as estações do ano, também canta em todas as estações e apeadeiros! Vive em habitats rurais e urbanos, gostando especialmente de fendas, pelo que a brita que há entre os carris dos comboios é um excelente habitat.”

Grilo do bosque © Piet-Spaans – WikiCommons

A maioria dos grilos ouve-se mais durante a noite porque têm atividade noturna. Ainda assim, “existem algumas espécies que têm também atividade diurna como o grilo-do-campo, de atividade principalmente diurna, ou grilo-de-Bordéus que tem atividade diurna e noturna”.

Outra curiosidade sobre estes “cantores” é que uns estridulam mais alto do que outros. Como os ralos, grilos-do-campo, grilos-bimaculados e grilos italianos que são estridentes e bem audíveis para o ouvido humano. Já “o canto do grilo-de-Bordéus é mais grave e baixo, mas se estiver atento pode ser que o ouça da próxima vez que for apanhar o comboio. No grilo-do-bosque o canto é pouco mais que um murmúrio hesitante que faz lembrar o som das folhas mortas sobre as quais vive”.

Mas será que todos os grilos estridulam, ou há grilos “silenciosos”? “De facto, há grilos que não cantam”, responde Eva Monteiro. “Este é o caso, por exemplo, do curioso grilo-tigre (Trigonidium cicindeloides) um pequeno grilo, com aspeto de escaravelho, que vive perto de zonas húmidas. Ou algumas espécies em que as asas anteriores estão completamente ausentes.”


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.