Foto: Frank Vasser/Wiki Commons

Sete aves que pode ver em Sagres na época das migrações

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O Festival de Observação de Aves de Sagres começa esta sexta-feira, 2 de Outubro, e é uma boa oportunidade para encontrar espécies que nunca viu ou que gostava de reencontrar.

A Wilder falou com Rui Machado, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), e indica-lhe sete aves que pode observar durante os dias do Festival de Sagres – entre 2 e 5 de Outubro – ou durante as próximas semanas.

Desde os pequenos passeriformes às aves marinhas e às aves de rapina, por estes dias estão a passar em Sagres milhares de aves a caminho de África, algumas das quais pela primeira vez. Outras residem todo o ano nesta zona algarvia.

1. Alvéola-amarela (Motacilla flava)

Foto: Dts3ds/Wiki Commons

Esguia e de tons amarelos, esta ave é “facilmente identificável” e “muito comum” na zona de Sagres por esta altura do ano, explica Rui Machado. Dificilmente se confunde com a alvéola-branca, uma vez que é “muito mais colorida”. As alvéolas-amarelas observam-se com mais facilidade nos terrenos agrícolas da zona do Vale Santo, onde se alimentam e acumulam energia para a viagem que vão enfrentar, pois “a maioria das que se vêem nesta altura do ano” estão em migração para África.

2. Cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra)

Foto: Frank Vassen/Wiki Commons

Distingue-se bem do cartaxo-comum devido às “sobrancelhas brancas”, descreve o ornitólogo da SPEA, que explica que este pequeno passeriforme frequenta as mesmas zonas de cereais da alvéola-amarela. Tal como esta, muitos cartaxos-amarelos chegaram a Sagres vindos do Norte e Centro da Europa e estão agora a fazer uma pausa antes de continuarem o longo caminho para África, onde passam os meses mais frios.

3. Felosa-musical (Phylloscopus trochilus)

Foto: Jakub Hałun/Wiki Commons

Por estes dias a felosa-musical passa “em grandes números” na zona de Sagres, mas “pode ser difícil de identificar”, adianta Rui Machado, que descreve: “São bastante esverdeadas, têm branco ou amarelo no peito – dependendo se são adultas ou juvenis – patas alaranjadas, asas bastante compridas e sobrancelha amarela.” O nome destas felosas inspira-se no seu “canto muito elaborado”, que raras vezes se ouve em Portugal pois não nidificam por aqui. É uma espécie florestal mais fácil de encontrar “em cima de arbustos ou sebes”, por exemplo na zona da Cabranosa, onde há um pinhal.

4. Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax)

Foto: gailhampshire/Wiki Commons

“A gralha-de-bico-vermelho é uma das espécies ex libris de Sagres”, sublinha o ornitólogo, que lembra que ali fica um dos poucos núcleos populacionais deste corvídeo em território nacional. “Completamente preta mas com o bico de um vermelho evidente, comprido e curvo, parece uma gralha mas menos corpulenta e robusta”, descreve. Na região podem ver-se “bandos com dezenas destas aves” todo o ano, pois é uma espécie residente. “Mas antes de vermos uma gralha-de-bico-vermelho já estamos a ouvi-la”, diz ainda Rui Machado, uma vez que estas gralhas “vocalizam bastante, com um chamamento metálico.” Locais onde talvez as consiga observar: Cabo de São Vicente; zona de Vale Santo; área entre Sagres e Vila do Bispo.

5. Alma-de-mestre (Hydrobates pelagicus)

Foto: Otter/Wiki Commons

O nome dos almas-de-mestre nasceu de lendas de velhos marinheiros que passavam a vida no mar. Tal como aqueles, estas pequenas aves que pertencem ao grupo dos painhos muito raramente vêm a terra, apenas para nidificar – e por isso são raras vezes fotografados. A melhor forma de encontrá-los é marcar uma saída pelágica numa embarcação, o que é quase sempre recompensado por se conseguirem ver “a poucos metros do barco”. “Têm apenas 15 ou 16 centímetros e impressionam-nos, pois em condições de mar difíceis andam a voar calmamente sobre as ondas.”

6. Ganso-patola ou alcatraz

Foto: Christine Matthews/Wiki Commons

Ao contrário do alma-de-mestre, o ganso-patola “é uma das aves marinhas mais fáceis de ver de terra” – indica Rui Machado -, desde logo por ser bem maior, com uma envergadura que chega aos dois metros. Ao largo de Sagres observam-se aves imaturas, de penugem mais escura, e também adultos. Nidificam mais a norte, na costa do Reino Unido e em arribas na Noruega, por exemplo, e quando deixam os territórios de reprodução passam para sul, explica. “Algumas ficam pela zona de Sagres”, onde se consegue observar a espécie todo o ano, mas em especial no Outono e Inverno. Com sorte, pode ser que apanhe um bando com dezenas destas aves a alimentarem-se no mar: “Fazem voos picados, parecem mísseis a cair na água.”

7. Águia-calçada (Aquila pennata)

Foto: Imran Shah/Wiki Commons

Pela região de Sagres podem ver-se muitas aves de rapina na altura das migrações outonais – muitas a caminho do Estreito de Gibraltar, por onde atravessarão o Atlântico, por ser o troço de mar mais estreito. A águia-calçada será das mais comuns nesta época do ano, acredita o ornitólogo da SPEA. “Por baixo é branca e preta, como os britangos ou as cegonhas, e existem variações de plumagens, com indivíduos mais claros e outros mais escuros”, descreve. Mas vale a pena procurar outras espécies, como as águias-d’asa-redonda, os milhafres-pretos e os bandos de grifos.


Saiba mais.

Recorde porque é que chamam a Sagres a “Península das Aves Perdidas”.


A secção “Seja um Naturalista” é patrocinada pelo Festival Birdwatching Sagres. Saiba mais aqui o que pode ver e fazer neste evento dedicado às aves.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.