Foto: Mário Marques

Que espécie é esta: aranha-cesteira-dos-prados

O leitor Mário Marques fotografou uma aranha a 19 de Outubro passado e pediu ajuda para saber a espécie. Sérgio Henriques responde.

 

“Venho por este meio solicitar a identificação desta aranha, que aparece durante o Verão e constrói a sua teia no meio dos tomateiros e videiras. A teia tem um rendilhado curioso e a aranha coloca-se no meio, orientando as patas em forma de X”, explicou Mário Marques, na mensagem enviada à Wilder.

A aranha foi fotografada na localidade de Forninho, em Poceirão, no concelho de Palmela.

Trata-se de uma fêmea de aranha-cesteira-dos-prados (Argiope cf. trifasciata).

 

Foto: Mário Marques

 

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Estas aranhas são das maiores e mais coloridas aranhas da nossa fauna. São ainda mais bonitas na parte da frente.

O comportamento natural desta aranha é exactamente o que foi registado na foto. Costumam ser avistadas no meio da sua teia orbicular (semelhante à do Homem Aranha), onde passam a maior parte do tempo à espera de insectos voadores que colidam contra a teia.

Os machos da espécie são minúsculos e normalmente passam despercebidos nos cantos das teias da fêmea que estão a guardar. Como estas são aranhas bem grandes que por vezes apanham acidentalmente insectos bem pequenos, as teias por vezes parecem ter gotas de água, mas que na verdade são pequenas aranhas prateadas disfarçadas de gotas. Estas não fazem teia mas alimentam-se das pequenas presas que a Argiope ignora.

Esse comportamento é denominado de cleptoparasitismo (a mesma origem etimilógica que a palavra cleptomaníaco), porque roubam comida de outras aranhas em vez de apanharem as suas próprias presas.

Por vezes, as Argiopes constroem um “zigzag” de seda branca no meio da teia, uma estrutura que inspirou o conto infantil A teia da Carlota, uma história que recomendo pela precisão da biologia das espécies que retrata. Essa estrutura foi originalmente denominada de estabilementum  por se pensar que daria estabilidade à teia.

No entanto, hoje sabe-se que funciona como um aviso para as aves não colidirem contra a teia e não a destruirem, e ainda para atrair os insectos de que a aranha se alimenta.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email o seu nome, a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.