Que espécie é esta: aranha-de-casa

A leitora Cláudia Capitão encontrou esta aranha em Julho de 2019 em Angra do Heroísmo, Terceira (Açores) e quis saber qual a espécie. Sérgio Henriques responde.

 

“Há cerca de um ano encontrei esta aranha no barracão. Tinha cerca de 10cm”, contou Cláudia Capitão à Wilder.

 

 

“Vi uma publicação vossa, gostava de saber que espécie é.. Tenho pena de não ter melhores fotos. Ela era realmente enorme, nunca tinha visto, e vejo muitas aranhas na minha zona.”

 

 

Trata-se de uma aranha de casa (família Angelenidae), talvez Tegenaria ou Eratigena.

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Normalmente são os machos que são avistados quando andam em busca de parceira, que poderá ser o caso aqui (embora não seja possível ver como certeza).

Como as nossas casas não têm areas de água exposta, são com frequência encontradas presas em lavatórios ou banheiras, de onde por vezes tentam beber uma ou outra gota que deixamos para traz  mas onde arriscam ficarem presas numa estructura que não conseguem escalar. Deixar uma toalha pendurada de dentro para fora (da banheira ou do lavatório) podera salvar muitas vidas, não só destas aranhas, mas também as das pessoas que apanham grandes sustos quando as vêem. As aranhas não matam ninguém, mas a aracnofobia mata todos os dias.

Estas espécies constroem teias bem grandes em manto e refugiam-se num canto onde aguardam pelas suas presas.

As suas patas têem unhas especializadas que lhes permitem andar e correr livremente na sua própria teia sem ficarem emaranhadas, para fugir de um predador ou caçar. É por isso que qualquer pequeno animal que entre na teia não consegue mais sair, enquanto a aranha consegue correr a grande velocidade em ponta de pés, como uma patinadora do gelo a patinar numa fina corda de trapezista a alta velocidade.

Infelizmente, esta adaptação que lhe dá este super poder também é o que as impede de conseguir escapar de uma banheira ou lavatório.

São das espécies que melhor se adaptaram a viver connosco, como o nome indica, e são encontradas um pouco por todo o país, em todo o tipo de estructuras humanas.

Estas especies seriam sobretudo habitantes de escarpas, zonas rochosas e cavernas, que provavelmente nos acompanham desde que deixámos de morar em grutas e começámos a construir as nossas “cavernas” artificias a que agora chamamos casas.

Não é assim supreendente que gostem particularmente das nossas caves ou estábulos, e que com o despedimento em massa do cavalo se tenham adaptado ao nosso novo meio de transporte, o carro, e agora sejam bem comuns em garagens.

Um dia quando andarmos todos em veículos de alta velocidade em túneis ou algo assim, creio que também se irão adpatar a esse novo meio de locomoção.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.