Que espécie é esta: aranha-vespa

A leitora Sofia Gomes encontrou esta aranha em Coimbra a 16 de Setembro e quis saber qual a espécie a que pertence. Sérgio Henriques responde.

Sofia Gomes diz ser “100% apaixonada pela natureza, característica inata da minha pessoa”. “Em minha casa não tiro uma teia, convivo com aranhas lobo e outras.”

No dia 16 de Setembro “encontrei dentro de casa esta maravilha, retirei do lugar onde se encontrava e fiquei a observar. Depois coloquei-a no jardim. Não tenho a certeza da sua origem e se será uma aranha abelha?”

“Atrevo-me a questionar como posso fazer para trabalhar e cuidar da nossa flora e fauna mesmo não sendo da área?”

Trata-se de uma aranha-vespa da espécie Argiope bruennichi.

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

A leitora pergunta se esta é uma aranha abelha e eu diria que acertou. Esta é uma fêmea de Argiope bruennichi, uma das espécies mais bonitas da nossa aracnofauna.

A aranha-vespa é uma das maiores aranhas do nosso país e tem uma dimensão considerada entre média a grande.

Estas aranhas atingem a maturidade mais ou menos em Agosto e Setembro (final do Verão), com as fêmeas a viver até Outubro, embora os machos vivam por períodos bem curtos.

Quando as fêmeas dão à luz guardam o saco de ovos no topo da vegetação perto da teia. Os ovos passam assim o Inverno e eclodem na próxima Primavera.

A teia desta aranha tem um zig-zag de seda que ainda hoje intriga os cientistas. Esta estrutura foi chamada de stabilementum porque se pensava que estabilizava a teia. Hoje pensa-se que serve para avisar as aves e evitar colisões. É tão eficaz que há investigação para imitar a teia e reduzir colisões de aves contra estruturas.

Soltar a aranha a aranha no jardim, parece-me ser exactamente o comportamento correcto a ter, já que esta espécie é nativa da região e em tempos não muito longínquos era até bastante comum na cidade de Coimbra, sendo infelizmente bastante rara hoje em dia. No entanto populações saudáveis ainda podem ser vistas na Mata Nacional do Choupal (que contém um número de espécies interessante e merece uma visita) e no Paul de Arzila (uma das áreas com maior interesse faunístico na região). 

Esta fêmea parece estar um pouco desidratada e é possivel que esteja a aproximar-se do fim da sua vida (caso já se tenha reproduzido), ou que em meados de Setembro o orvalho/chuva não abunde na área. Embora esta seja uma aranha que está bem adaptada a climas mais ou menos secos, a água é importante nesta altura do ano, quando as fêmeas se preparam para construir o seu saco de ovos. Este é um processo que consome muita da sua energia.

Para ajudar um pouco estes animais uma solução simples seria borrifá-los gentilmente com água. Se, como neste caso, estão fora da sua teia, esta solução não é tão eficaz, mas um pedaço de algodão ou uma bola de papel higiénico embebido em água, poderão permitir que o animal beba um pouco antes de ser solto. Em geral uma boa prática que ajuda um conjunto de espécies nacionais, particularmente no verão, é manter um pequeno charco, ou um recepiente, com água no jardim. É fenomenal para um monte de animais e até ajuda as plantas ao manter humidade na area. Tendo o cuidado de colocar um tronco/ramo que toque na superfície da água e no chão que o rodeia, que assim permita aos animais que lá caiam poder sair. Outra boa medida é plantar espécies de plantas nacionais, como o alecrim, tomilho ou o rosmaninho por exemplo, que para além do seu cheiro agradável, atraem e alimentam polinizadores, como as borboletas e abelhas, e dão excelentes casas para muitos outros animais.  


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.