Que espécie é esta: Nómada-das-ervas-mediterrânica

A leitora Luísa Caldas fotografou esta aranha em Março no jardim de uma amiga que mora em Chaves e quis saber a que espécie pertence. Sérgio Henriques responde.

 

“Nunca vi uma aranha assim… Gostaria de saber a que espécie pertence e se é perigosa”, escreveu Luísa Caldas à Wilder.

 

 

Trata-se de uma nómada-das-ervas-mediterrânica (Micrommata ligurina).

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

A aranha da fotografia é um macho. É a única espécie deste género com os machos a apresentarem o abdomen acinzentado que se vê na fotografia.

É uma espécie que ocorre um pouco por todo o país e que atinge a maturidade por volta do início da Primavera.

Este macho está pronto a acasalar. Assim que os machos encontram uma fêmea têm um ritual de acalamento bastante violento e rápido, que serve para a fêmea medir a velocidade e a força do macho.

Isto pode parecer bastante simplista e bruto, mas é importante para a fêmea garantir que passa esse tipo de características à sua descendência, pois esta aranha é o tigre das savanas portuguesas.

Estas aranhas caçam sem teia, escondendo-se por entre as ervas onde esperam que uma presa adequada se cruze no seu caminho. Tal como os tigres, a estratégia passa por passar despercebida até ao último minuto, saltar rapidamente sobre a presa e derrubá-la com força bruta. A sua mordedura garante que a presa tem uma morte rápida.

Estas aranhas são mães cuidadosas que constroem ninhos mais ou menos esféricos de seda branca que parece de papel, dentro do qual a fêmea se fecha com as suas crias. O ninho é, por vezes, construído numa folha que a mãe enrola para o camuflar, ou em arbustos espinhosos se houver algum por perto.

A espécie costumava ver-se muito em prados húmidos, perto de ribeiras, linhas de água ou zonas de alagadio. Mas, mas com o abandono agrícola e a conversão destes habitats em matos ou a sua destruição para projectos de desenvolvimento urbano, parece ser agora menos comum em algumas zonas do centro do país.

Onde ainda existem populações saudáveis, a espécie pode ser bastante comum entre as ervas, sendo uma visitante frequente de jardins, plantas ornamentais (que parece ser o caso aqui) ou aparecer mesmo dentro de casa.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.