Foto: Rosário Gordalina

Que espécie é esta: teia de ácaro-aranha

A leitora Rosário Gordalina fotografou uma teia diferente a 7 de Maio e pediu para saber “a que aranha” pertence. Sérgio Henriques responde.

 

“Encontrei […] no meu pinhal em Corte do Sobro (Aljezur) esta planta, envolta no que parece ser uma teia de aranha. Será assim? E de que aranha se trata?”, questionou a leitora.

Na verdade, esta não é a teia de um aranha mas sim de um ácaro da familia Tetranychidae, possivelmente do género Tetranychus, por vezes chamados de ácaros-aranha.

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

 

Foto: Rosário Gordalina

 

Este grupo de ácaros alimenta-se de plantas e algumas das espécies são de importância agrícola, mas ocorrem frequentemente em habitats naturais um pouco por todo o país. Muitas vezes cobrindo arbustos espinhos, como no exemplo da foto.

Sem contar com as aranhas, são uns dos poucos animais que produzem teias. Mas ao contrário das aranhas, que são predadores e usam as teias para caçar, estes ácaros sao fitófagos ou herbívoros (alimentam-se de plantas) e constroem as teias para protecção, onde podem viver juntos às centenas ou mesmo aos milhares. Os pequenos animais aparecem como pequenos pontos avermelhados na foto.

 

 

Os predadores de espécies tão pequenas costumam ser também relativamente pequenos, pois um predador maior não consegue usualmente retirar valor energético de animais com esta dimensão tão reduzida, se estes estiverem espalhados no espaço e tiverem de ser caçados individualmente. Simplesmente, não vale a pena o esforço.

Quanto aos predadores pequenos que se poderiam alimentar destes ácaros, não conseguem andar rapidamente na teia. E mesmo que consigam, os ácaros conseguem sentir a presença do predador (pelas vibrações na teia) e fugir.

Desta forma, unir esforços para construir uma cidade de seda é uma defesa no mínimo invulgar e algo que nenhum dos ácaros conseguiria fazer individualmente, mas um exemplo notável de como a colaboração pode ser a abordagem mais eficaz para o bem comum. Nós temos muito a aprender com estes pequenos animais.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.