Bioblitzs identificaram 266 espécies no Bussaco e em Serralves

Invertebrados, anfíbios, répteis, aves, mamíferos e plantas. Na Mata do Bussaco, o Bussaco Blitz inventariou 148 espécies, ao longo de um dia inteiro que juntou biólogos e o público em geral, no final de Maio.

Já no Parque de Serralves, o bioblitz realizado a 25 e 26 de Abril levou ao registo de 118 espécies naquele espaço verde da cidade do Porto – primeiro com a ajuda de alunos das escolas, no sábado; no dia seguinte, com quem apareceu.

Um bioblitz é uma acção de ciência cidadã (‘citizen science’) que procura envolver o público em geral, num curto espaço de tempo e num território limitado, para as pessoas encontrarem o maior número de espécies possível. Objectivos: aproximar os cidadãos da biodiversidade e das técnicas utilizadas pelos biólogos, mas pode ter também aproveitamento científico.

 

Foto: Tiago Ferreira Marques, © Fundação de Serralves, Porto
Foto: Tiago Ferreira Marques, © Fundação de Serralves, Porto

 

Das espécies encontradas em Serralves, 62 eram “novas para o Parque”, ou seja, mais de metade do total, adiantou à Wilder o diretor do Parque, João Almeida. Em causa estiveram principalmente briófitas (grupo de plantas que inclui os musgos), líquenes e insectos, que são “três dos grupos menos estudados” neste espaço verde.

Quanto à Mata do Bussaco, as estrelas do bioblitz de dia 28 de Maio foram claramente os répteis, que são aliás “um dos grupos, se não o grupo, mais ‘odiados’ pelo público”, comenta Milene Matos, investigadora da Universidade de Aveiro e responsável pelo projecto Bio Somos Todos, promotores do evento em parceria com a Fundação Mata do Bussaco. “Quem morria de medo de serpentes, ficou a perceber que afinal até são criaturas simpáticas”, brinca.

No Bussaco, os próprios répteis “colaboraram bastante” – a começar por um lagarto-de-água, que foi comer à mão de um dos participantes. Estes também viram a lagartixa-do-mato e o licranço. E quem aguentou quase até ao final, pelas 23h, teve a recompensa de observar uma cobra-de-escada adulta.

 

Foto: Fundação Mata do Bussaco
Foto: Fundação Mata do Bussaco

 

Já o director do parque de Serralves destaca que neste último bioblitz, nas campanhas de anilhagem, detectaram um chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus) que tinha sido anilhado um ano antes, no bioblitz de 2014.

Um dado importante, nota, pois “estas recapturas são a razão porque se faz anilhagem”. “São importantes fontes de conhecimento sobre a biologia da espécie, pois fornecem dados sobre aspetos difíceis de determinar, como a longevidade, capacidade de mobilidade, fidelidade ao território e outros.”

 

Foto: Tiago Ferreira Marques, © Fundação de Serralves, Porto

 

O escaravelho-rinoceronte (Oryctes nasicornis) chamou também as atenções porque foi registada a reprodução desta espécie no parque, o que mostra que Serralves “é um refúgio estratégico na cidade do Porto”, no que respeita à biodiversidade, afirma João Almeida.

“Não se trata de uma espécie rara, mas por as larvas do escaravelho-rinoceronte se alimentarem de madeira morta e terem um longo ciclo de vida (2 a 4 anos), não será muito fácil de observar em ambiente urbano.”

No BioBlitz Serralves, segundo João Almeida, participaram 1.658 pessoas no dia das escolas e 1.296 pessoas no domingo, para o público em geral. O director do Parque acredita que a adesão teria sido ainda maior se o estado do tempo tivesse ajudado.

 

Foto: Tiago Ferreira Marques, © Fundação de Serralves, Porto
Foto: Tiago Ferreira Marques, © Fundação de Serralves, Porto

 

Quanto ao Bussaco, onde houve “pouca divulgação”, o grupo foi bem mais pequeno mas também “bastante heterogéneo”, tanto nas idades como nas ocupações.

“Tivemos três pessoas com ligações às ciências naturais e, de resto, vigilantes, engenheiros informáticos, professores, e outras profissões”, explica Milene Matos, que recentemente ganhou o prémio Terre de Femmes, atribuído pela Fundação Yves Rocher.

 

BussacoBlitz. Foto: Ana Cristina Torrão
BussacoBlitz. Foto: Ana Cristina Torrão

 

E não se pense que os resultados destas duas acções vão ficar guardados em gavetas.

No Bussaco, onde foram encontradas duas espécies de invertebrados ainda desconhecidos na Mata – uma mosca e uma vespa, ambas com patas amarelas – estes exemplares foram recolhidos para análise e identificação em laboratório.

Depois de serem identificadas, as duas espécies irão constar de um inventário de invertebrados que está a ser elaborado, “posteriormente vertido em candidaturas a financiamentos, projectos e outras acções”. Já os resultados em geral “servirão planos de promoção e comunicação da Mata”.

 

Pintassilgo (Carduelis carduelis). Foto: Fundação Mata do Bussaco
Pintassilgo (Carduelis carduelis). Foto: Fundação Mata do Bussaco

 

Já em Serralves, indica por seu turno o director do Parque, depois de validada por investigadores, a nova informação integrará a plataforma de monitorização pelo cidadão “Biodiversidade e Ambiente”, que pertence à Fundação.

Os novos dados vão servir também como material para fichas educativas dirigidas ao público e preparar as actividades que são oferecidas ao longo do ano.

Certo é que Serralves se prepara para fazer uma nova edição do BioBlitz, no próximo ano, tal como está também prometido para a Mata do Bussaco.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.