Chapim-azul. Foto: Ann/Pixabay

Cidadãos britânicos contaram mais de sete milhões de aves nos seus jardins

No último fim-de-semana de Janeiro, cerca de 473 mil pessoas participaram no Big Garden Birdwatch, contagem de aves que acontece há já 40 anos. Os resultados foram conhecidos agora.

 

Foram 472.758 as pessoas que, durante uma hora, observaram e contaram as aves que visitavam os seus jardins, no fim-de-semana de 26 a 28 de Janeiro. Foi a 40ª edição do Big Garden Birdwatch, iniciativa da Royal Society for the Protection of Birds (RSPB).

Contas feitas, este censo registou um total de 7.669.138 aves no Reino Unido.

O pardal foi a espécie mais registada (com 1.2 milhões de observações durante o fim-de-semana), seguida do estorninho, chapim-azul, melro, pombo-torcaz, pintassilgo, chapim-real, pisco-de-peito-ruivo, tentilhão e pega. Estas foram as 10 espécies mais observadas durante o Big Garden Birdwatch.

Com dados de há 40 anos, esta iniciativa consegue construir uma boa imagem de como se estão a aguentar as aves selvagens de jardins.

Por exemplo, sabe-se agora que em 2019 há menos carriças e chapins-rabilongos do que em outros anos. Mais concretamente, este ano houve menos 27% de registos para as carriças e 17% para os chapins-rabilongos, em relação às contagens de 2018. Ainda assim, é cedo para dizer se é uma flutuação temporária ou se é o início de uma tendência.

Mas há uma espécie que, claramente, tem vindo a diminuir, o tordo. Em 1979, esta espécie fazia parte da lista das 10 aves mais comuns; em 2009, o número de tordos observados era metade em relação a 1979. Este ano, esta espécie surge apenas em 20º lugar.

“Ao longo dos seus muitos anos, este censo mostrou que há aves que estão hoje bem melhor, como o pintassilgo e o pombo-torcaz, e que há aves com declínios alarmantes, como o pardal e o estorninho”, disse Daniel Hayhow, conservacionista da RSPB, em comunicado.

Ainda assim, apesar de o número de pardais ser 56% menor hoje em relação a 1979, na última década esta ave tem vindo a recuperar ligeiramente, com uma subida de 10%. “Isto dá-nos esperança de que, pelo menos, uma recuperação parcial está em curso”, acrescentou Hayhow.

“As aves dos nossos jardins devem fazer parte do nosso dia-a-dia”, comentou Martin Harper, director de conservação da RSPB. “Para muitas pessoas, as aves são a única ligação ao mundo natural e trazem imensa alegria.”

“Ter milhares de pessoas a passar uma hora a observar a vida selvagem dos jardins ajuda-nos a construir uma melhor imagem de como as nossas aves se estão a aguentar, ao mesmo tempo que as pessoas se sentem bem por poderem participar”, acrescentou Harper.

A contagem de aves na Europa é precisamente o tema da conferência Bird Numbers 2019 a decorrer esta semana em Évora. A conferência, organizada pelo European Bird Census Council (EBCC) de três em três anos, realiza-se pela primeira vez em Portugal, pela mão do LabOr – Laboratório de Ornitologia, ligado à Universidade de Évora.

Um dos temas em destaque é a importância das contagens de aves selvagens pelos cidadãos naturalistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.