Foto: Wilder

Cinco factos fascinantes sobre a relação entre os musgos e as árvores

Podem os musgos ser prejudiciais às árvores onde crescem? Esta foi a dúvida que surgiu a Mercedes Patrício, depois de termos publicado o artigo Cinco espécies de musgos e líquenes para procurar em Janeiro.

 

Mercedes Patrício gostava de saber se os musgos podem causar o apodrecimento do tronco da árvore onde estão, “devido à enorme quantidade de humidade que eles mantêm no tronco durante o inverno”.

Colocámos algumas perguntas sobre o assunto a Cristiana Costa Vieira, curadora do herbário do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto.

Estas são informações fascinantes sobre musgos e árvores.

 

Por que precisam os musgos das árvores?

Os musgos e líquenes que encontramos no tronco das árvores utilizam as árvores apenas como “âncoras” para se estabelecerem, sem as parasitar. São chamadas “epífitas”, ou seja, plantas que crescem em cima de outras plantas.

 

tronco de uma árvore com musgo
Foto: Helena Geraldes/Wilder

 

Os musgos e líquenes nas árvores são todos iguais?

As espécies de musgos e líquenes que crescem nos troncos de árvores têm de se adaptar às diferentes temperaturas e à luz coada pelas folhas ao longo do dia. Mas não só. Precisam também de “ter em conta” o lado para onde está voltado o tronco, as estações do ano e a variação de acidez e rugosidade do tronco, que se vai alterando ao longo da vida de uma árvore.

Por isso, os musgos e líquenes de um tronco variam ao longo da vida de uma árvore e são completamente diferentes num carvalho, num castanheiro, num eucalipto ou numa cerejeira, por exemplo.

Aliás há espécies musgos e líquenes que só crescem em árvores com mais de 50 anos de idade e tornam-se tão raros que são protegidos por lei, tal como as árvores em que habitam.

 

Os musgos podem causar algum dano à árvore onde crescem?

O tronco superficial de uma árvore já são células mortas. As suas células vivas estão longe da superfície em contacto com o musgo, líquene ou outro colonizador superficial. Além disso, geralmente, os musgos e líquenes têm raízes muito pequenas e frágeis.

 

 

Uma árvore só apodrece por causa de fendas, cortes ou rachadelas por onde entra água, fungos ou outros organismos detritívoros.

As plantas epífitas capazes de “abafar” uma árvore, são geralmente as heras, que podem asfixiar os ramos onde nascem novas folhas.

 

De que forma são os musgos e líquenes benéficos para a biodiversidade?

Os musgos e líquenes são autênticos poços de vida. São verdadeiras micro-florestas que servem de refúgio e alimentação para inúmeros animais e algas minúsculas.

São também os “berçários” de muitas sementes em germinação.

 

 

E são os primeiros a colonizar as terras de taludes e rochas expostas das montanhas, formando assim as primeiras camadas orgânicas onde depois se instalam as ervas, os arbustos e as árvores.

Para o Homem já foram mais importantes no dia-a-dia. Hoje usam-se em horticultura e em jardins inspiradores, mas já foram forra de colchões, casa, calçado e até pensos anti-sépticos em momentos de guerra. Hoje em dia exploram-se também as suas propriedades indicadoras da qualidade de ar e água, antibióticas e anti-fúngicas.

 

Devem os musgos ser removidos ou devem ser deixados “em paz”?

Os musgos e líquenes têm um metabolismo muito lento e demoram dezenas de anos a cobrir qualquer superfície. Quem os descobrir vai ficar maravilhada com o seu grau de detalhe minimalista, a sua forma de vida low-cost, o seu metabolismo adaptado às condições ambientais e a forma como crescem, virtualmente, em qualquer nicho.

 

 

As opiniões divergem, mas quem os conhece acha que devem ser deixados em todas as situações naturais e semi-naturais em que são encontrados. Compreende-se que em fachadas e obras esculturais encubram parte dos detalhes e promovam até alguma bio-deterioração.

No entanto, tal como qualquer outro organismo, fazem parte de uma rede de vida. São jardins à pequena escala que adicionam níveis de biodiversidade não só a florestas, mas também a quintas, muros ou cidades e contribuem para purificar o ar e a água.

São parte integrante da natureza que todos queremos proteger.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.