Como identificar as aves que vê na praia

Sabe distinguir uma gaivota de um guincho? Maria Dias, bióloga e especialista em aves marinhas, ajuda-o a identificar as aves mais fáceis de encontrar nas praias de Portugal nesta altura do ano.

 

O Inverno é uma das melhores alturas para a observação de várias espécies de aves aquáticas nas praias e estuários portugueses, que chegam a Portugal em busca de temperaturas mais amenas nesta estação.

 

1. Gaivota-d’asa-escura (acima) Larus fuscus

A gaivota-d’asa-escura é uma das gaivotas mais comuns nas praias portuguesas, ocorrendo durante todo o ano, mas sendo claramente mais abundante no Inverno. Os adultos distinguem-se facilmente dos juvenis por terem uma plumagem contrastante cinzenta-escura no dorso e branca na barriga e na cabeça. O bico e as patas são amarelas. Por outro lado, os juvenis têm uma cor geral parda, adquirindo gradualmente a plumagem dos adultos, que aparece por volta dos quatro ou cinco anos de idade. A gaivota-d’asa-escura pode confundir-se com a gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), sendo esta última nitidamente mais clara no dorso. Os juvenis das duas espécies são, no entanto, bastante difíceis de distinguir. A gaivota-de-patas-amarelas é muito mais comum como nidificante, sendo famosa pela sua enorme colónia na ilha da Berlenga.

As gaivotas-de-asa-escura são também migradoras. Os indivíduos que observamos em Portugal provêm sobretudo das colónias localizadas na Europa Ocidental.

2. Guincho Larus ridibundus

O guincho é comum por todo o litoral do nosso país, podendo também ser visto em zonas húmidas do interior. É notoriamente mais pequeno que as outras espécies de gaivotas mais comuns (como a d’asa-escura ou a de patas-amarelas), tem as patas e o bico vermelhos, e a cabeça branca na plumagem de inverno (na plumagem nupcial tem um “capuz” castanho-escuro, quase preto, que contrasta com o tom geral da plumagem de cor cinzenta-clara). Em Portugal é especialmente abundante nos meses mais frios, e pode observar-se em grandes cidades como Lisboa.

É uma das espécies mais abundantes nas zonas húmidas de Portugal. No estuário do Tejo, por exemplo, é o principal consumidor de invertebrados que vivem na lama, tendo por isso um papel ecológico de relevo na cadeia trófica desta importante zona húmida.

Ilustração: Helena Geraldes (Aguarela)

 

3. Pilrito-das-praias Calidris alba

O pilrito-das-praias é uma das aves mais comuns nas praias de areia e de rocha de Portugal continental. É frequente observá-lo em bandos, a correr junto à zona da rebentação ou a sobrevoar o mar junto à costa. Alimenta-se de invertebrados que vivem na zona entre-marés, como minhocas poliquetas e pequenos crustáceos. É uma ave de pequenas dimensões. No inverno tem geralmente plumagem clara (cinzenta nas costas e branca na barriga), e tem uma particularidade única entre as aves limícolas – tem apenas três dedos em cada pata (todas as outras têm quatro).

É uma ave migradora de longa distância – as aves que observamos em Portugal são oriundas do alto Ártico, onde fazem o ninho nas zonas de tundra localizadas a mais de 3000 km do nosso país. Por cá estão presentes sobretudo no Inverno, mais ameno por estas bandas, mas também no Outono e na Primavera (durante os períodos de migração), sendo por isso mais comum observá-las nestes meses.

 

 

4. Rola-do-mar Arenaria interpres

A rola-do-mar é provavelmente a espécie de ave limícola mais fácil de observar nas praias rochosas do nosso país, incluindo nos arquipélagos (sobretudo nos Açores). O seu comportamento é relativamente atrevido, aproximando-se frequentemente das pessoas. No entanto passa facilmente despercebida, pois a sua plumagem escura nas costas confunde-se facilmente com as rochas. As suas patas alaranjadas e o seu modo de alimentação – em pequenos bandos, a patrulhar as poças de maré à procura dos pequenos invertebrados de que se alimenta –, denunciam a sua presença a um observador mais atento.

As rolas-do-mar não nidificam em Portugal. Reproduzem-se nas latitudes mais a norte, observando-se durante os meses de Inverno e da migração (Primavera e Outono).

 

 

5. Borrelho-grande-de-coleira Charadrius hiaticula

Menos frequente que a rola-do-mar e que o pilrito-das-praias, o borrelho-grande-de-coleira pode também ser visto nas plataformas rochosas e nos areais, sendo no entanto mais abundante em estuários e em salinas. A sua “coleira” preta (mais visível na Primavera), o seu ar “rechonchudo” e o seu bico alaranjado e preto distinguem-no facilmente das outras límicolas. Os juvenis podem por vezes confundir-se com o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), que ocorre também com frequência nas praias arenosas do nosso país (sobretudo naquelas localizadas perto de zonas húmidas). Quando se alimentam, os borrelhos permanecem imóveis durante uns segundos (por vezes até minutos), atentos ao movimento dos invertebrados, para depois darem pequenas corridas de modo a capturarem as suas presas.

É também um nidificante de latitudes mais a norte, ocorrendo em Portugal durante a migração e no Inverno.

Ilustração: Helena Geraldes (Aguarela)
Ilustração: Helena Geraldes (Aguarela)

 

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Maria Dias é uma das autoras do livro “Lá Fora – Guia para descobrir a Natureza” (Março de 2014), juntamente com Inês Teixeira do Rosário. Leia aqui a expedição que fizeram com a Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.