Covid-19: Faça birdwatching da sua janela ou varanda. Sem sair de casa

Melro-preto, pardal-comum, rabirruivo-preto e andorinhas são algumas das aves que podemos ver da nossa janela, varanda ou jardim. Os amantes de aves estão a organizar-se em maratonas de birdwatching, sem sair de casa.

 

As aves selvagens fazem parte do nosso dia-a-dia, quer tenhamos consciência disso quer não. Agora, com milhares de pessoas em casa, essas aves podem ser um consolo que ajuda a passar estes tempos difíceis.

Um pouco pelas redes sociais, os amantes de aves e da natureza organizam grupos e iniciativas de observação e partilha das espécies que observam a partir das suas janelas, varandas, terraços ou logradouros e quintais.

Uma das iniciativas, com a hashtag #AvesDesdeCasa, surgiu em Espanha a 14 de Março na rede social Twitter por iniciativa da organização Aver Aves e é apoiada pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).

Até este momento, dia 20 de Março, já tinham sido observadas 128 espécies diferentes.

São mais de 150 pessoas a partir de mais de 40 localidades de toda a Espanha e de outros países, incluindo Portugal, “com os seus binóculos, telescópios e guias de identificação, observando aves a partir de janelas e varandas”, segundo uma nota do Aver Aves.

Segundo Javier Rico, responsável pelo Aver Aves e jornalista de Ambiente, esta “é uma forma de procurar o lado positivo da obrigação de ficarmos em casa para colaborar e travar a propagação do coronavírus. São momentos muito duros, que serão superados, e é preciso tentar passá-los da melhor maneira possível.”

E as aves podem ajudar. “Elas deixam-se ver e ouvir, com os seus voos ou pousadas, procurando alimento, com os seus cantos e chamamentos e até com as suas estratégias de caça.”

Entre as aves que Javier Rico já observou estão a cegonha-branca, o rabirruivo-preto, o estorninho, o piriquito-de-colar, o pardal-comum e o melro-preto. “Aquela que mais alegria nos deu ver é o casal de andorinhas-das-chaminés que, depois de milhares de quilómetros de viagem, voltou a nidificar na garagem do edifício onde habitamos”, em Madrid.

A iniciativa já passou fronteiras e há pessoas a fazer o mesmo em Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha ou Colômbia e Panamá.

 

https://twitter.com/LaraBroom/status/1239978517858856965

 

 

 

Outra das iniciativas nasceu em Itália, com a hashtag #BWKM0 (Birdwatching at Zero Km), por Matteo Toller.

David Lindo, escritor e apresentador naturalista, é apenas uma das pessoas que já aderiu a este movimento.

 

 

A SEO/Birdlife lançou a campanha #QuédateEnElNido e apela às pessoas para aproveitarem o tempo em casa para fazerem Ciência Cidadã.

“Ainda que a situação de emergência sanitária nos obrigue a permanecer em casa, podemos continuar a contribuir para conhecer melhor a biodiversidade, especialmente as aves, do sítio onde moramos e assim ajudar à sua conservação”, escreve a SEO/Birdlife em comunicado.

“A partir das nossas janelas, varandas, terraços ou jardins particulares podemos, com as nossas observações, dar um grande contributo para o conhecimento e conservação das aves das cidades e vilas.”

Para isso, a organização espanhola convida as pessoas a inserirem essa informação na plataforma eBird, aplicação gratuita coordenada pelo Cornell Lab of Ornithology na qual milhares de pessoas de todo o mundo registam as suas observações de aves selvagens.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) sugere estas 22 espécies de aves para observar, sem sair de casa, na sua cidade:

  • Pisco-de-peito-ruivo
  • Rabirruivo-comum
  • Melro-preto
  • Toutinegra-de-barrete
  • Pardal-de-telhado
  • Alvéola-branca
  • Carriça
  • Chapim-azul
  • Chapim-real
  • Gaio
  • Andorinha-das-chaminés
  • Andorinha-dos-beirais
  • Trepadeira
  • Verdilhão
  • Felosinha-comum
  • Pintassilgo
  • Milheirinha
  • Estrelinha
  • Pombo-torcaz
  • Peneireiros
  • Periquito-rabijunco
  • Milhafres-pretos

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.