Águia-pesqueira. Foto: John Mosesso/National Biological Information Infrastructure

Dia 9 de Janeiro é dia de contarmos águias-pesqueiras

O segundo censo nacional de águias-pesqueiras invernantes em Portugal está marcado para dia 9 de Janeiro de 2016, no segundo sábado do próximo ano.

 

No primeiro censo, que se realizou a 24 de Janeiro deste ano, participaram 135 observadores, que contaram entre 71 (número mínimo) e 81 (número máximo) aves em estuários, lagoas e albufeiras de Norte a Sul do país, cobrindo a quase totalidade do território continental português: desde o Estuário do Minho, em Caminha, ao Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, no Algarve.

Os resultados dessa primeira iniciativa ultrapassaram as expectativas e deram confiança à equipa organizadora para prosseguir com o trabalho, agora procurando também reforçar a presença de observadores em várias áreas que já estavam identificadas como importantes. À frente deste projecto estão Gonçalo Elias, ornitólogo responsável pelo portal Aves de Portugal, e João Tomás, voluntário que ajuda a organizar o censo.

A águia-pesqueira (Pandion haliaetus) foi dada como extinta em Portugal em 1997, quando morreu a única fêmea do casal que ainda nidificava no país, na costa alentejana. Quatro anos depois, em 2011, iniciou-se um projecto de reintrodução nas margens da albufeira do Alqueva, com aves trazidas da Suécia e da Finlândia.

 

Águia-pesqueira. Foto: Pedro Olivença

 

Entretanto, surgiram boas notícias em Abril passado, quando uma equipa de investigadores portugueses confirmou o avistamento de um casal de águias-pesqueiras a ocuparem um ninho, junto ao mar na Costa Vicentina.

Portugal conta ainda com as águias-pesqueiras que nos visitam todos os Invernos, chegadas de outros locais da Europa. “Muitas das suas zonas de alimentação nos seus países de origem – Reino Unido, Alemanha, Noruega e Suécia – estão congeladas e, por isso, as aves não conseguem capturar peixes, o seu principal alimento”, explicou Gonçalo Elias à Wilder, quando se realizou o primeiro censo.

Desta vez, a equipa dividiu os locais de observação em locais de prioridade 1, onde “é importante assegurar uma boa cobertura” (a vermelho no mapa), e locais de prioridade 2, “onde em anos anteriores já foi registada a presença de pelo menos uma pesqueira nos meses de Dezembro e Janeiro”.

 

 

“Identificámos sete locais prioritários: ria de Aveiro, estuários do Mondego, do Tejo e do Sado, rio Tejo a montante do estuário, albufeira de Alqueva e ria Formosa”, indicou Gonçalo Elias à Wilder. O ornitólogo explica que a razão de serem prioritários tem a ver com a sua grande dimensão” e ainda com o facto de “haver informação histórica que aponta para a existência de uma população invernante com alguma dimensão (cinco ou mais águias-pesqueiras invernantes em cada um destes sítios)”.

Apesar de ser ainda um pouco cedo para ter certezas, o ornitólogo espera que este novo censo consiga “igualar ou até mesmo ultrapassar o esforço de visitação realizado”.

A expectativa quanto à contagem de águias-pesqueiras também é elevada. Tudo depende de quantas águias-pesqueiras estiverem este ano a invernar em Portugal, “mas há duas novas áreas importantes que serão visitadas e que deverão ter bastantes indivíduos”, adianta o mesmo responsável. São elas o curso do médio Tejo, entre Constância e Santarém, e a albufeira de Alqueva.

A albufeira de Alqueva é, aliás, um local onde a equipa espera obter dados mais completos. “Suspeitamos que existam algumas águias-pesqueiras invernantes, mas não foi possível realizar uma prospecção completa”, adianta Gonçalo Elias.

 

Águia-pesqueira. Foto: José Sousa

 

Outro objectivo novo é “descobrir novos locais de invernada que não foram detectados no ano passado, nomeadamente em albufeiras espalhadas pelo interior do território”.

Tal como na primeira iniciativa, qualquer pessoa pode participar neste censo, bastando que saiba identificar uma águia-pesqueira e que esteja disponível para se deslocar a um estuário, albufeira ou outra zona húmida no próximo dia 9 de Janeiro.

“Nos locais de pequena dimensão (pequenos estuários e albufeiras), creio que uma a duas horas serão suficientes para dizer se há ou não águias-pesqueiras presentes. Nos sítios maiores, a prospecção poderá demorar várias horas; nesses sítios haverá, em princípio, várias pessoas a cobrir diferentes áreas em simultâneo e que estarão em contacto umas com as outras”, explica o ornitólogo do portal Aves de Portugal.

Este ano, há ainda uma outra novidade. Em Espanha, o projecto “Amigos del Águila Pescadora” decidiu adoptar o “dia da águia-pesqueira” para a região da Andaluzia, com a realização de censos nos dias 19 de Dezembro e 9 de Janeiro – este último, na mesma data em que se vai fazer a contagem em Portugal. Gonçalo Elias adianta que aguardam com expectativa os resultados do outro lado da fronteira.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se está interessado em participar na segunda edição do Dia da Águia-Pesqueira, pode visitar o fórum que lhe está associado e enviar uma mensagem aos organizadores.

Aqui ficam algumas características da águia-pesqueira, disponibilizadas por Gonçalo Elias, que o podem ajudar a reconhecer esta ave:

Nome científico: Pandion haliaetus

Comprimento: 52 – 60 centímetros

Envergadura da asa: 152 – 167 centímetros

Características que a distinguem das outras rapinas: Esta ave distingue-se pela sua grande dimensão, pela “máscara” preta em redor dos olhos e pela plumagem muito branca nas partes inferiores, que é geralmente visível em voo.

Locais onde é mais fácil de a observar: Esta águia aparece quase sempre perto de água e é frequente vê-la a pescar ou pousada num poste, enquanto se alimenta de um peixe que acabou de capturar. Os melhores locais são a ria de Aveiro, os estuários do Tejo e do Sado e a ria Formosa.

A águia mais parecida e que pode causar confusão na identificação: A espécie mais parecida em termos de coloração e dimensões é a águia-cobreira, mas essa espécie é muito invulgar no período de Inverno e além disso não se alimenta de peixe.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Conheça a história do macho de águia-pesqueira P21 e os dados mais recentes do projecto de reintrodução da espécie no Alentejo. Fique a par de tudo aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.