Eles vão participar no censo da águia-pesqueira

Andreia, José, Nuno e Ricardo são apenas quatro dos cerca de 100 voluntários que neste sábado vão contar águias-pesqueiras de Norte a Sul do país. O 2º Censo Nacional da espécie quer saber quantas destas aves passam o Inverno em Portugal e onde.

 

A águia de cabeça branca e mascarilha preta, observada tantas vezes no cimo de postes junto à água, é uma visitante assídua no Inverno em Portugal. É por ela que neste sábado dia 16 de Janeiro se vão montar tripés e estarão apontados binóculos e telescópios.

Na véspera do grande dia, há equipas de voluntários atribuídas para os seis grandes locais seleccionados pelo censo: Ria de Aveiro, Vale do Tejo, Estuário do Tejo, Estuário do Sado, Alqueva e Ria Formosa, segundo Gonçalo Elias, um dos coordenadores da iniciativa, inteiramente feita por voluntários. No total, são entre 80 a 100 observadores que irão a registar as águias-pesqueiras (Pandion haliaetus) a pé, de carro, ou de barco.

“O conjunto daqueles locais deve contribuir com 75% do total de águias”, contou à Wilder Gonçalo Elias. “No que se refere a locais de pequena dimensão, estamos com algumas falhas, nomeadamente a Lagoa de Albufeira (Sesimbra), Albufeira do Caia (Elvas/Campo Maior) e algumas albufeiras mais pequenas no interior alentejano”.

Andreia Dias vai estar na barragem de Alqueva.

 

Foto: DR
Foto: DR

 

Há muito que Andreia se interessa por estudar as aves e, desde 2011, está envolvida no projecto de reintrodução da águia-pesqueira em Portugal, a decorrer no Alqueva. “Tenho muito gosto em poder colaborar nesta iniciativa”, disse à Wilder. Os dados recolhidos vão ajudar a aumentar o conhecimento da espécie, nomeadamente a “evolução da população invernante e o estado dos habitats”.

Nuno Barros estará na Arrifana e na foz da ribeira de Aljezur.

 

Foto: Nuno Barros
Foto: Nuno Barros

 

“O que me levou a participar foi o facto de integrar um censo dirigido de observadores para observadores, com grande adesão, e um exemplo do sucesso da ‘carolice’ ao serviço da monitorização e conservação, uma faceta fulcral da ornitologia portuguesa”, explicou. Além disso, a águia-pesqueira é uma espécie que lhe diz muito. “As minhas raízes familiares estão em Aljezur, local do último casal nidificante nos anos 90 e onde a espécie ressurgiu subitamente o ano passado como nidificante”, contou. Nuno lembra-se de ler, com espanto e tristeza, a notícia da morte de um dos membros do último casal de águia-pesqueira, em 1997, na capa de um jornal. “Foi com grande satisfação que o ano passado acolhi a notícia do regresso da espécie e que este ano participo no censo.”

José Frade escolheu a Lagoa de Melides para fazer as suas contagens.

 

Foto: DR

 

“Além de poder ajudar no censo, em que todos os voluntários são importantes, aproveito também para saber a situação da águia-pesqueira na lagoa. Desde que conheço a lagoa, esta espécie tem sido presença habitual”.

Mais a Norte, na zona da Guarda, Ricardo Brandão e um grupo de amigos vão estar de olho nas águias.

 

Foto: DR
Foto: DR

 

“A zona onde vamos estar nem é das prioritárias porque não há muitos registos de águias-pesqueiras na zona da Guarda”, disse à Wilder. “Mas não quisemos deixar de fazer parte do esforço a nível nacional. Por isso, cá vamos também, para albufeiras do distrito onde, mesmo que não haja águias-pesqueiras, há sempre outras aves interessantes para observar!” Para Ricardo Brandão, este é “mais um pretexto para ir para o campo ver aves!”

Este ano, os voluntários que vão estar nos seis locais de maior dimensão serão organizados por equipas com um coordenador local. No Vale do Tejo (a montante do estuário), no Alqueva e na Ria Formosa estão previstos censos feitos a partir de barco.

Segundo Gonçalo Elias, os voluntários são os mais variados. “Há observadores amadores, há fotógrafos de natureza (não profissionais), há pessoas que trabalham em empresas ou em organizações não governamentais ligadas ao Ambiente.” No fundo, “qualquer pessoa que saiba identificar uma águia-pesqueira pode participar no censo”.

 

Águia-pesqueira. Foto: José Frade
Águia-pesqueira. Foto: José Frade

 

Ao longo do dia, os observadores vão partilhando os seus registos e a equipa coordenadora do censo vai actualizando a base de dados. No ano passado, a primeira edição do censo, cerca de 130 pessoas contaram entre 71 e 81 águias-pesqueiras nos rios, estuários, lagoas e albufeiras do país.

“A ideia inicial era a de saber quantas águias-pesqueiras invernam em Portugal”, disse Gonçalo Elias. “Mas na prática isto acabou por servir para descobrir a verdadeira importância de alguns locais para a invernada da espécie. Além disso, serviu para chamar a atenção de mais pessoas para a situação da águia-pesqueira.”

O responsável gostaria que o censo fosse repetido ao longo dos anos, “para começar a detectar alterações ou tendências”.

De momento, o censo português está a ser acompanhado com interesse noutros países, especialmente no Reino Unido, onde a espécie nidifica. Por isso, um desafio é “conseguimos identificar as aves individualmente, através das anilhas que muitas têm”.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se quiser, ainda se pode inscrever no censo, através do email [email protected]

Aqui ficam algumas características da águia-pesqueira, disponibilizadas por Gonçalo Elias, que o podem ajudar a reconhecer esta ave:

Nome científico: Pandion haliaetus

Comprimento: 52 – 60 centímetros

Envergadura da asa: 152 – 167 centímetros

Características que a distinguem das outras rapinas: Esta ave distingue-se pela sua grande dimensão, pela “máscara” preta em redor dos olhos e pela plumagem muito branca nas partes inferiores, que é geralmente visível em voo.

Locais onde é mais fácil de a observar: Esta águia aparece quase sempre perto de água e é frequente vê-la a pescar ou pousada num poste, enquanto se alimenta de um peixe que acabou de capturar. Os melhores locais são a ria de Aveiro, os estuários do Tejo e do Sado e a ria Formosa.

A águia mais parecida e que pode causar confusão na identificação: A espécie mais parecida em termos de coloração e dimensões é a águia-cobreira, mas essa espécie é muito invulgar no período de Inverno e além disso não se alimenta de peixe.

Saiba mais sobre o censo aqui.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.