Borrelho-de-coleira-interrompida. Foto: Mike Charitakis/Wiki Commons

Espanha já escolheu a Ave do Ano 2019

O borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) foi eleita a Ave do Ano 2019 em Espanha, anunciou hoje a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).

 

A espécie “competia” com o tartaranhão-caçador (Circus pygargus) e com o picanço-real (Lanius meridionalis) numa votação aberta ao público, lançada pela SEO/Birdlife para escolher a ave do ano.

A votação recebeu, no total, mais de 146.000 votos, segundo a agência espanhola de notícias EuropaPress. O borrelho-de-coleira-interrompida teve 35,48% dos votos (51.879 votos). Em segundo lugar ficou o tartaranhão-caçador, com 33,50% (48.990 votos) e em terceiro lugar o picanço-real com 31% (45.330 votos).

Esta votação – que, no ano passado, elegeu a coruja-das-torres (Tyto alba) como a Ave do Ano 2018 – realiza-se anualmente há mais de 30 anos.

A escolha foi revelada hoje pela directora-executiva da SEO/Birdlife, Asunción Ruiz, que anunciou novas acções de conservação e sensibilização dedicadas à espécie ao longo de 2019.

Concretamente, será coordenada uma metodologia de trabalho homogénea para o estudo desta ave, será feita a vigilância e protecção dos ninhos, bem como censos e estimativas populacionais, gestão da vegetação e jornadas e conferências de divulgação. A organização não governamental espanhola prevê também iniciar negociações com entidades públicas e privadas para melhorar a coexistência com estas aves, reavaliar o estatuto actual de ameaça, exigir às administrações planos de conservação quando sejam necessários e a cooperação com outras entidades para a recuperação de velhas salinas.

 

Borrelho-de-coleira-interrompida. Foto: David Raju/Wiki Commons

 

Segundo Ruiz, o facto de os cidadãos terem escolhido o borrelho-de-coleira-interrompida “é uma excelente oportunidade para tomar consciência das ameaças que pesam sobre os habitats costeiros e zonas húmidas salinas do interior, terrivelmente castigados pela urbanização descontrolada, o turismo de massas, a poluição e o esgotamento dos recursos hídricos”, citou a EuropaPress.

Esta é a primeira vez que Espanha escolhe uma ave limícola como Ave do Ano.  É uma espécie ligada a praias, zonas húmidas, ambientes interdunares e lagoas interiores e está classificada como Vulnerável no Livro Vermelho das Aves de Espanha.

As ameaças são numerosas e, em algumas áreas, as populações de borrelho-de-coleira-interrompida registaram declínios de 70% na última década. A SEO/Birdlife estima que, no total, a população da Europa oscilará entre os 23.000 e os 41.000 casais; em Espanha haverá entre 2.500 e 6.000 casais.

A SEO/Birdlife salienta, entre as ameaças, o turismo massificado, especialmente na época de reprodução, a construção descontrolada no litoral, a limpeza mecânica das praias (que pode destruir os restos de algas marinhas onde habitam os invertebrados dos quais se alimenta esta ave) e o abandono das salinas tradicionais.

 

Borrelho-de-coleira-interrompida. Foto: Rison Thumboor/Wiki Commons

 

Em Portugal, esta é uma espécie residente e migradora que ocorre ao longo de todo o litoral. Segundo o livro “Aves de Portugal – Ornitologia do território continental” (2010), o borrelho-de-coleira-interrompida vive, principalmente, em estuários, rias com salinas e nas praias com dunas.

Não se sabe ao certo qual a dimensão da população nidificante em Portugal mas será, pelo menos, de 1.000 casais.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui a história de Pim, Pam, Pum, três crias de borrelho-de-coleira-interrompida.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Descubra aqui onde pode observar mais facilmente o borrelho-de-coleira-interrompida em território português, no portal Aves de Portugal.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.