Borboleta-carnaval. Foto: Gilles San Martin/WikiCommons

Espanhóis escolhem a borboleta-carnaval como a Borboleta do Ano 2020

A votação, que decorreu durante o mês de Janeiro, é organizada pela Associação Zerynthia para chamar a atenção dos cidadãos para o valor das borboletas naquele país.

 

Foram mais de 1.100 as pessoas que votaram na eleição da Borboleta do Ano 2020 em Espanha. A iniciativa surge da Zerynthia, associação espanhola sem fins lucrativos que trabalha para proteger as borboletas, tanto diurnas como nocturnas, e os lugares onde vivem.

A grande vencedora foi a borboleta-carnaval (Zerynthia rumina), com 40% dos votos, revela a associação em comunicado.

 

Borboleta-carnaval. Foto: Gilles San Martin/WikiCommons

 

Em segundo lugar, com 31% dos votos, ficou a borboleta-esfinge-colibri (Macroglossum stellatarum); em terceiro, com 16,2%, ficou a Tarucus theophrastus e em quarto lugar, com 10.5% dos votos a Cupido alcetas.

Segundo a associação, as regiões com maior participação foram Madrid, País Basco, La Rioja, Castela e Leão e Andaluzia.

A borboleta-carnaval, por ser muito vistosa e endémica do país, encantou os participantes nesta votação.

“Não só se trata de uma espécie de grande beleza como, além disso, a sua distribuição está restrita ao Sul de França e à Península Ibérica”, explica a associação Zerynthia.

Em Espanha, esta espécie está bem distribuída, à excepção da zona Cantábrica, mas forma sempre populações pequenas e relativamente separadas entre si. “Estas características fazem com que muitas populações exijam esforços de conservação”, alerta a associação.

A borboleta-carnaval também ocorre em Portugal. No território continental está presente em quase todo o país, mais comum no Sul, segundo Patrícia Garcia-Pereira, do Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Ce3C) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Esta espécie, que voa de Fevereiro a Maio, depende muito de uma planta, a chamada erva-bicha (Aristolochia paucinervis). É desta planta que se alimentam as suas lagartas. “Isto faz com que seja uma borboleta muito sedentária e ligada a um tipo de habitat muito específico”, explica a associação espanhola.

Por isso, “a sua principal ameaça é o desaparecimento deste tipo de vegetação devido ao urbanismo ou à construção de infraestruturas”.

As alterações climáticas também afectam a borboleta-carnaval. “Em 2019 foi detectado uma antecipação do seu período de voo no Norte de Espanha. Nesta zona aparece entre Abril e Junho mas, surpreendentemente, começou a ser observada em Fevereiro.” Esta é uma data normal no Sul da Andaluzia, mas não em regiões como Navarra ou La Rioja.

Ao longo do ano de 2020, a associação conservacionista espanhola compromete-se a “trabalhar na conservação das populações ameaçadas desta espécie”, característica dos ambientes mediterrânicos espanhóis bem conservados.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.